Porto Alegre (RS) - O combate ao plantio comercial de árvores no Uruguai só vai ser possível com a união de diferentes organizações sociais. Na avaliação do coordenador da Rede Amigos da Terra no Uruguai, Sebastian Valdomir, só o diálogo entre as populações mais prejudicadas com essa política pode impedir o avanço das monoculturas e os seus prejuízos.
Desde 2006, ambientalistas e movimentos sociais uruguaios e argentinos lutam contra a instalação de fábricas de celulose no Uruguai, às margens do Rio Uruguai. Eles denunciam que as instalações vão poluir o rio, além de prejudicar as populações que vivem em um raio de cem quilômetros. Já está em operação a fábrica da Botnia, e estão projetadas pelo menos mais quatro unidades para os próximos seis anos. Para Valdomir, é preciso lutar contra o projeto das empresas, que, além do plantio de árvores, estão instalando na América do Sul as fábricas para o processamento da celulose.
“É um modelo claramente consolidado do ponto de vista regional. Empresas que não têm nenhum controle dos Estados, que não têm nenhum problema em ultrapassar as fronteiras, e que, claramente, estão se abastecendo de matéria-prima com madeira produzida em Corrientes, Missiones, Rio Grande do Sul, Uruguai”, diz.
Para o ambientalista, o avanço das monoculturas é predatório não apenas para o meio ambiente, secando fontes de água subterrâneas, mas também traz impactos sociais. Ele lembra que o plantio tem sido subsidiado pelos governos, que isentam de impostos essas atividades, mas não concedem as mesmas vantagens para a agricultura familiar.
“O Estado está sendo cúmplice dessa expansão da monocultura de árvores e tirando recursos para a agricultura familiar, para a reforma agrária, para a colonização de novas terras, repartição e distribuição da terra em famílias pobres do meio rural”, critica.
Por isso, o ambientalista defende que a articulação dos movimentos populares é a única forma de combater esse modelo agroexportador. “Nós vamos tratar de fortalecer o movimento social popular com os trabalhadores rurais, pequena agricultura, pequenos leiteiros, trabalhadores florestais, que também são uma parte importante desse assunto aqui”, afirma.
O plantio de pinus e eucalipto ocupa hoje 1 milhão dos 16 milhões de hectares cultiváveis no Uruguai. Nos próximos seis anos, a expectativa é de que as monoculturas representem 3 milhões dessas terras no país. Só a fábrica da Botnia, atualmente, tem capacidade para produzir 1 milhão de toneladas de celulose por ano.
(Por Patrícia Benvenuti,
Agencia Chasque, 22/01/2008)