Nos últimos anos, tornou-se comum a utilização de cifras e dados quantitativos para informar acerca dos graves problemas ambientais que enfrenta a sociedade. Além de provocar um lógico alarme inicial, logo sobrevém um período de banalização de cifras cada vez mais vazias de significado, que conduzem logicamente à indiferença.
A razão talvez seja o abuso que se faz do uso deste recurso, fazendo os dados numéricos demasiado teóricos e difíceis de vincular com a realidade cotidiana das pessoas. Apesar disso, a utilização de informação quantificada é fundamental, tanto para realizar os diagnósticos como para decidir estratégias e avaliar resultados.
Não é novidade que a gestão da água se transformou em um dos desafios chaves da sociedade. Por que à sua indiscutível essencialidade para a vida, acrescenta-se que são recursos finitos, distribuidos de maneira muito desparelha no planeta, nos continentes, países e localidades.
São muitos os temas vinculantes entre a água e a qualidade de vida. Vários deles, essenciais. Não é necessário assinalar que a disponibilidade de água potável, assim como o saneamento, constituem serviços básicos para as pessoas. Lamentavelmente, nos países em desenvolvimento a cobertura de saneamento alcança somente a metade da população. O resto sofre as conseqüências de suportar todos os dias tais carências.
Para cúmulo, são as crianças as mais vulneráveis. Segundo a Unesco, cerca de 3.800 crianças morrem todos os dias por enfermidades relacionadas com a falta de acesso a água potável, por falta de bons serviços de saneamento e por manter uma higiene insuficiente.
É uma terrível cifra que deveria nos estremecer, se por um instante tomarmos consciência do que realmente significa. Para compreender melhor, imaginemos de que maneira isso nos afetaria se conhecêssemos as vítimas. Ainda segundo os dados do Informe das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos no Mundo: “A água, uma responsabilidade compartilhada”, queremos insistir na vulnerabilidade das crianças.
Os menores de cinco anos são particularmente sensíveis aos impactos ambientais negativos vinculados à falta de água e saneamento. A cada ano, falecem cerca de 10 milhões de crianças antes de completar cinco anos de idade, e quatro milhões morrem antes de alcançar o primeiro mês de vida.
Em nossos países, dentro do complicado problema da falta de água e saneamento, a diarréia é a principal causa de morte infantil. E recorrendo a algumas cifras para compreender a magnitude do problema, devemos dizer que, nos países em desenvolvimento, as enfermidades diarréicas são responsáveis por 21% do total de mortes de pessoas menores de cinco anos de idade.
Mas, sem necessidade de chegar a tais extremos, o drama de privar uma população tão numerosa de um correto acesso a água potável e serviços de saneamento, condiciona a qualidade de vida de uma enorme quantidade de crianças. Crescem em inferioridade de condições. O que mais irrita nesta situação é que existem as possibilidades tecnológicas e os recursos econômicos para terminar com esse drama. Sem dúvida, as prioridades dos tomadores de decisão seguem sendo outras.
(Por Hernán Sorhuet Gelós*, Eco Agência, 22/01/2008)
*O autor é jornalista no Uruguai e escreve regularmente sobre meio-ambiente para o El País, de Montevidéo. Reprodução autorizada, citando-se a fonte.