Dos que se protegeram contra febre amarela em GO, 29% estavam com a dose em dia

Em Minas Gerais, homem que esteve em Goiás morreu com suspeita da doença; para ministro da Saúde, Carnaval será "tranqüilo"

Quase 1 milhão de pessoas se vacinaram contra febre amarela em Goiás sem necessidade desde dezembro, segundo a Secretaria da Saúde do Estado.

Segundo o governo goiano, até anteontem, 975 mil pessoas receberam a vacina apesar de já terem sido imunizadas nos últimos dez anos, período em que a dose continua válida.

Um balanço do governo do Estado aponta que 3,4 milhões de pessoas tomaram a vacina desde 17 de dezembro, quando mortes de macacos por febre amarela provocaram uma corrida aos postos do Estado -que tem 5,6 milhões de habitantes.

As imunizações desnecessárias correspondem a 29% do total de vacinados. Oito pessoas já morreram neste ano após contrair febre amarela no Estado. Outras duas mortes suspeitas estão sob análise. Segundo o governo estadual, a procura pela vacina cai a cada dia. Em Goiânia, as imunizações diárias, que chegaram a 50 mil no começo deste mês, estão em 20 mil, segundo a prefeitura. O plantão de vacinação aos fins de semana foi encerrado.

A queda é atribuída ao fato de a maior parte da população já ter se vacinado nas últimas semanas.

Para evitar a "revacinação", a Secretaria da Saúde de Goiás vai exigir a apresentação do cartão de vacina de quem procurar os postos de saúde. Quem tomou a dose duas vezes não mostrou o documento.

Em Mato Grosso do Sul, pelo menos 400 mil pessoas se vacinaram contra a febre amarela sem necessidade. A população do Estado é de 2,4 milhões.

Minas

Um homem de 24 anos de Araguari (MG) morreu anteontem em Uberlândia (MG) com a suspeita de ter contraído febre amarela. Caso seja confirmado, será o primeiro caso da doença neste ano em Minas Gerais. Oito pessoas já morreram de febre amarela em 2008.

Ele morreu com os sintomas semelhantes aos da doença no hospital da UFU (Universidade Federal de Uberlândia), onde havia chegado no domingo. Teve icterícia, hemorragia e falência múltipla dos órgãos.

Segundo o infectologista Marcelo Simão, que cuidou do caso, os sintomas são parecidos com os de outras doenças mais comuns, como dengue e leptospirose. "É clinicamente impossível saber se era ou não febre amarela", afirma.

Outro fator de preocupação é que, segundo a Secretaria da Saúde do Estado, antes de adoecer o homem passou alguns dias na zona rural de Caldas Novas (GO), a trabalho. Todos os mortos até agora foram contaminados em Goiás. O exame que determinará se ele estava ou não infectado deve ficar pronto entre três e 15 dias. Mesmo sem casos confirmados, o governo mineiro reforçou a vacinação, depois que alguns macacos apareceram mortos no noroeste do Estado, no início deste mês.

O ministro José Gomes Temporão (Saúde) prometeu um "Carnaval tranqüilo" em relação à febre amarela. Ele disse acreditar que o número de casos tenha "estacionado" e que eventuais confirmações, se surgirem, se referirão a casos do final de 2007 ou início deste ano.

(Felipe Bächtold e João Carlos Magalhães, Folha de São Paulo, 23/01/2008)