Segundo estatal, descoberta na bacia de Santos permite auto-suficiência No novo campo, Júpiter, produção deve começar só daqui a cinco ou seis anos; Brasil importa maior parte do que consome da Bolívia
A nova descoberta da Petrobras na bacia de Santos assegura ao país a auto-suficiência na produção de gás natural, afirmou ontem o diretor de Exploração e Produção da companhia, Guilherme Estrella.
"Pela dimensão do reservatório, posso dizer que [a descoberta] fará o Brasil atingir a auto-suficiência na produção de gás, o que é estratégico", disse.
Segundo a Petrobras, o novo campo tem dimensões semelhantes às do megacampo de Tupi, o maior do país: 1.200 km quadrados de área e um intervalo na rocha onde se encontra o gás com altura de 120 metros.
Segundo Estrella, só daqui a cinco ou seis anos, porém, é que terá início a produção no campo, batizado provisoriamente de Júpiter. Foi a primeira descoberta de gás na área abaixo da camada pré-sal, nova fronteira exploratória do país.
O diretor disse que ainda não é possível determinar o volume do reservatório, mas afirmou que é de grande potencial, de boa qualidade e de grandes dimensões. Tais características, afirma, permitem dizer que será capaz de garantir o suprimento de gás do país.
Atualmente, o Brasil importa a maior parte do gás que consome da Bolívia -30 milhões de metros cúbicos. Não é possível, porém, prever ainda o volume de gás contido na reserva porque a Petrobras não tem uma sonda disponível para fazer um teste de produção, que mede a vazão do gás e ajuda a determinar o tamanho da descoberta. A expectativa é realizar o teste até o final deste ano.
Para Estrella, uma dificuldade adicional é a distância do litoral -300 km do Estado do Rio. A princípio, o diretor disse que parece mais viável usar navios de gás liquefeito para levar o produto até a costa em vez de investir num gasoduto.
Risco zeroEm todos os 17 poços perfurados na camada pré-sal, a Petrobras encontrou petróleo e gás -em nove deles já fez testes de produção, que indicaram grandes reservas de petróleo. "É uma área onde o risco exploratório é desprezível."
Estrella defendeu uma mudança no regime de concessões, que, na visão dele, está intimamente ligada às áreas de maior risco. As opções, diz, são os modelos de compartilhamento da produção das empresas com a União (detentora legal das reservas no subsolo) ou os contratos de prestação de serviços.
Estrella negou o uso político do anúncio da descoberta, realizado anteontem, em meio à turbulência dos mercados, que levou a Bovespa a cair 6,6%.
Ontem, as ações preferenciais da Petrobras subiram 9,7% e impulsionaram a Bovespa, que subiu 4,45%.
(Pedro Soares,
Folha de São Paulo, 23/01/2008)