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transposição do são francisco
2008-01-21

Passaram as festas, os foguetes, a comilança. O país volta à realidade, provisoriamente, é verdade, já que tudo só começa realmente após o carnaval. Em todo caso, para mim o ano começou. E vejo então a oportunidade de escrever aqui sobre um assunto que para muitos já passou, mas não para os que cremos e esperamos em outro mundo possível.

Aparentemente, o bispo de Barra, dom Luis Flávio Cappio, saiu derrotado do jejum no qual se lançou em protesto contra a transposição do rio São Francisco. Interrompeu seu jejum e não teve suas reivindicações atendidas. Entretanto, seu gesto teve alcance que foi muito além deste embate com o governo que o venceu pela recalcitrante negativa em cumprir o acordo com ele lavrado há dois anos. A vitória do bispo realmente se deu na esperança que logrou reacender em muitos corações.

Em 1975, eu era uma jovem estudante de comunicação social da PUC-Rio. Convidada a integrar o setor de comunicação da CNBB, que nessa época funcionava no Rio, descobri ali uma Igreja com novo rosto, diferente da que conhecia. Igreja profética e corajosa, que tinha à sua frente gigantescas figuras como Dom Ivo e Dom Aloísio Lorscheider, que em meio à sangrenta ditadura militar que tomava conta do Brasil eram as únicas vozes que se levantavam para denunciar os abusos acontecidos nos cárceres e porões do DOI-CODI.

Aprendi a amar essa Igreja e, com o intuito de servi-la, mudei o rumo de minha vida. Deixei a comunicação pela teologia, recomeçando todo um percurso universitário que terminou no doutorado em 1989, entremeado por nascimento de filhos e outras dificuldades menores. Aprendi o que era vibrar com um ideal motivado e alimentado pela fé. Vi, perplexa, jovens mulheres grávidas como eu, refugiadas de países vizinhos como Chile e Argentina, que haviam conhecido a tortura e recebiam na sede da Cáritas, por mediação da CNBB, passaporte e passagem para o exílio que lhes salvaria a vida.

Entendi naquele momento que a fé não se resume a rituais e celebrações respaldando um  bom comportamento que se dá meramente em nível pessoal e privado. Implica um compromisso público, que ganhe as ruas e as praças, gerando testemunhos que falem forte mesmo com o risco da própria vida. A teologia que estudava fundamentava tudo isso e todos nós, jovens teólogos, sentíamos o desafio de, com nossa reflexão, ajudar humildemente a mudar o mundo, para fazê-lo mais de acordo ao sonho do Criador, com justiça e equidade para todos.

Muito tempo passou desde então e muitos embates foram travados por aquela geração de bispos e teólogos. Mudou a configuração do mundo. O sonho do socialismo real ruiu fragorosamente, as utopias esfacelaram-se em mil pedaços. O processo de secularização avançou e novas propostas religiosas encheram o cenário. Não era possível seguir com o mesmo discurso e havia que encontrar palavras novas para dizer a Boa Notícia do Evangelho de maneira  atrativa para as novas gerações.

No entanto, em muitos de nós, que viveram aqueles tempos aguerridos, teimava em permanecer uma pequena dor nostálgica no fundo do coração. Onde estaria o profetismo que nos arrebatava, o ideal que nos fazia estremecer de desejo e nos dizia que o testemunho era mais importante que todos os discursos?

Eis que a figura de Dom Cappio surgiu e veio ao encontro de nossos sonhos e saudades. Com seu gesto e sua luta, abriu um debate que não se fechou com o fim de seu jejum. Mostrou à nossa geração, e, sobretudo, às novas, que a luta pela justiça continua, agora acrescida pelo elemento da ecologia. Sua entrega pela preservação do rio, que é condição de vida para tantos, dá disso testemunho. 

Neste começo de ano, não posso deixar de agradecer a esse bispo que nos mostrou novamente o rosto de uma Igreja que parecia perdida no passado. E nos assinalou o caminho para a continuação, em nova clave, de uma luta que não poderá terminar enquanto ainda houver uma partícula de injustiça sobre a terra. Na figura do bispo de Barra reencontramos a palavra do Evangelho, que diz que do seio daquele que crê brotarão rios de água viva. Por essa água que nos desaltera e faz viver agradecemos, humilde e consoladamente.

(Por Maria Clara Lucchetti Bingemer *, Adital, 21/01/2008)

* teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio


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