A Bolívia honrará os contratos de fornecimento de gás ao Brasil, respeitará a propriedade privada e não expulsará os imigrantes ilegais como forma de garantir uma ampla reconciliação com o país, afirmou na segunda-feira o embaixador boliviano em Brasília.
Após as promessas do Brasil no mês passado de investir cerca de 1,5 bilhão de dólares em nova produção de gás, estradas e assistência agrícola na Bolívia, as relações entre os dois países melhoraram substancialmente, afirmou em entrevista à imprensa o embaixador boliviano Mauricio Dorfler.
"Obviamente nos últimos meses a relação entre Brasil e Bolívia tornou-se muito mais positiva", disse Dorfler. "Os novos investimentos marcam um relançamento".
Duras negociações com a Petrobras, maior investidora estrangeira na Bolívia, tinham afetado as relações entre a maior economia da América Latina e um dos países mais pobres do hemisfério.
Após a nacionalização em maio de 2006 de sua indústria de gás, da qual o Brasil é o maior consumidor, a Bolívia recebeu ajuda de Venezuela e Cuba, incluindo em programas de saúde e educação.
Dorfler afirmou que a Bolívia vai cumprir com suas obrigações contratuais para fornecer gás ao Brasil através do gasoduto que une os países.
"Não existe risco de fornecimento de gás boliviano para o Brasil, o contrato está inteiramente garantido", disse Dorfler.
Autoridades bolivianas têm dito que o consumo doméstico pode ter prioridade sobre as exportações de gás. Em setembro, o país parou de fornecer à usina termelétrica de Cuiabá, que agora terá que operar com óleo em uma determinação para garantir a segurança do sistema energético brasileiro.
Dorfler explicou que não há obrigações contratuais para fornecer à usina.
O ministro da Energia boliviano, Carlos Villegas, e o vice-presidente, Alvaro Garcia, viajarão para Brasília nas próximas semanas para discutir questões energéticas e projetos conjuntos de infra-estrutura com autoridades brasileiras, afirmou ele.
A Bolívia também vai tentar negociar uma solução para os produtores brasileiros que vivem ilegalmente na zona de segurança de 50 quilômetros ao longo da fronteira e temem a expulsão. Em geral, brasileiros produzem soja nessa área.
"A situação de vulnerabilidade desses brasileiros precisa ser discutida", disse Dorfler.
O embaixador destacou que a nova Constituição da Bolívia, que passará por um referendo nos próximos meses, garante totalmente a propriedade privada.
"Estamos cientes da importância do investimento estrangeiro e não há dúvidas de que o governo vai respeitar a propriedade privada", disse ele.
(Raymond Colitt, A Tarde, 21/01/2008)