As campanhas de conscientização sobre a importância da vacinação contra a aftosa, assim como o trabalho dos vacinadores comunitários foram apontados pela Secretaria da Agricultura como os principais motivadores para o resultado positivo dos primeiros 15 dias da campanha de vacinação contra a aftosa. Neste período, 51,7% do rebanho de bovinos e búfalos do Estado, referentes a 17 regionais do Departamento de Produção Animal (DPA), foram imunizados. O número é considerado histórico pelo diretor do DPA, Cláudio Dagoberto Bueno, já que no mesmo período do ano passado a cobertura chegava a 40%.
"Os produtores estão mais cientes de que ao vacinar o rebanho podem ganhar mais em sanidade e em termos de preços da carne", ressaltou. Dos 496 municípios gaúchos, quatro já concluíram a vacinação e alcançaram 100% de cobertura. As maiores coberturas vacinais foram alcançadas nas regionais de Ijuí, com 60,94%, São Luiz Gonzaga, 58,53% e Pelotas, com 58,07%. No entanto, ainda são registrados baixos índices, especialmente em localidades em que predominam os minifúndios. "Os dados mais baixos estão intrinsecamente relacionados às pequenas propriedades, pois quase sempre, nesses casos, os produtores não dependem da pecuária para sobreviver." É o caso da regional de Caxias do Sul, com 31,79%, Estrela, com 35,95%, Soledade 36,77%, Santa Rosa, 38,72% e Cruz Alta, 38,81%.
Duas regiões ficaram sem encaminhar os dados: Alegrete e Santa Maria. Conforme o responsável pelo Serviço de Doenças Vesiculares do DPA, Diego Viali dos Santos, o processo de vacinação tem ocorrido sem problemas nessas localidades, apenas os dados não têm sido repassados por alta demanda de trabalho e falta de infra-estrutura. Além do trabalho junto à campanha de vacinação, os técnicos do DPA têm se desdobrado em outras funções, como o credenciamento de propriedades como Estabelecimento Rural Aprovado no Sisbov (Eras). "Dom Pedrito, por exemplo, tem 86 demandas de Eras para executar, mais a vacinação e apenas um veículo."
Segundo ele, os dados são fechados a partir das notas fiscais que os produtores encaminham às inspetorias vinculadas ao DPA, como forma de comprovar a vacinação por parte dos agricultores. "Na verdade, a única forma que temos de garantir a vacinação é com base na conscientização do produtor. Se ele não quiser vacinar e tentar forjar, não podemos impedir. Como ocorreu com um produtor, que pegou as vacinas gratuitas e simplesmente as jogou fora", comentou Bueno. Para tentar superar esse problema, o DPA estuda formas de fazer com que as vacinas não sejam mais entregues aos pecuaristas, mas sim direto aos vacinadores comunitários.
Uma das novidades que será debatida com a cadeia produtiva e, caso aprovada, enviada ao Mapa, é a alteração do calendário de vacinação, dos meses de janeiro e junho, para novembro e maio. "Costumamos nos balizar pelas datas de vacinação da Argentina e do Uruguai, por questões de segurança. Mas hoje a tecnologia das vacinas nos permite ter o mesmo calendário do restante do Brasil."
A imunização do rebanho gaúcho começou no dia 2 de janeiro e segue até o dia 31 deste mês. Bueno diz que a meta é alcançar índices de imunização mais próximos dos 100%. "O mínimo exigido pelo Ministério da Agricultura é 90%. Em 2007, ultrapassamos os 94% e pretendemos fazê-lo novamente."
A princípio, o DPA não cogita a possibilidade de prorrogar o prazo para a vacinação. Tal medida só será tomada caso ocorra algum problema em zonas de risco ou contratempos em função das propriedades Eras. "Pelos resultados até agora, não será necessário mais prazo", disse Bueno.
Com apagão sanitário no Brasil, europeus negociam com o Uruguai
O apagão sanitário vivido pelo Brasil está fazendo com que os europeus comecem a trocar a carne brasileira pela uruguaia. Frigoríficos europeus e mesmo as autoridades de alguns países, como a Suíça, procuram fechar acordos com os produtores uruguaios, já temendo a falta da carne nacional. No final do ano passado, a União Européia anunciou aumento do bloqueio à carne brasileira e pediu que o governo entregasse até o final deste mês uma lista de fazendas autorizadas a exportar.
Para que uma carne brasileira tenha o selo de exportação os empresários terão de provar que o gado permaneceu por 40 dias dentro das fazendas certificadas e aprovadas. Esse gado ainda precisa ter estado por três meses fora de qualquer região considerada como zona embargada, como o Paraguai, Paraná e Mato Grosso do Sul.
Uma das opções buscadas pelos europeus eram as carnes argentinas. Mas com as restrições existentes no país para impedir o aumento dos preços internos dos alimentos, a solução em 2008 será mesmo a carne uruguaia. Segundo a Câmara de Indústrias Frigoríficas do Uruguai, até 2007 o principal destino das carnes do país era o mercado americano.
No ano passado, 46% das vendas foram para os Estados Unidos. Os europeus receberam apenas 12,2% do total exportado pelo Uruguai. No total, as vendas uruguaias chegaram a US$ 820 milhões, US$ 190 milhões para os países europeus. Para 2008, a previsão é de que metade das exportações de carne do Uruguai vá para a Europa.
Na prática, os europeus já estimam que podem até dobrar o volume de compras do Uruguai nos próximos 12 meses.
Estado já identificou 112 propriedades aptas a exportar à União Européia Técnicos da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio (Seapa) já vistoriaram cerca de 300 propriedades gaúchas com vistas à exportação de carne para a União Européia. Deste total, 112 estão de acordo com a Certificação Eras, adotada pelo Sisbov. Apenas duas foram consideradas sem conformidade às exigências da UE. Uma desistiu e outra ainda está com sua avaliação pendente. As demais ficaram devendo documentos.
A auditoria em 546 propriedades no Estado, exigida pela União Européia, será realizada até o final da semana. De acordo com o diretor do Departamento de Produção Animal (DPA) da Seapa, Cláudio Dagoberto Bueno, a lista completa das propriedades aprovadas deve ser confirmada na próxima semana.
(JC-RS, 22/01/2008)