Pesquisadores brasileiros que estão na Estação Antártica Comandante Ferraz para as atividades científicas do verão 2007/2008 enfrentam o inverno mais rigoroso dos últimos 20 anos. E constataram, mais uma vez, a redução da camada de ozônio. Desde dezembro de 2007, desenvolvem projetos que fazem parte do IV Ano Polar Internacional, como o de estudo do buraco na camada de ozônio e sobre variações climáticas.
Apesar de as conclusões finais saírem em 2010, os resultados científicos começam a ser divulgados este ano. “O Ano Polar está permitindo à comunidade científica participar de uma grande campanha observacional para desenvolver pesquisas nos ambientes Ártico e Antártico, aprofundando o conhecimento quanto à conexão dos pólos com outras latitudes, as mudanças climáticas e sua interação com o meio ambiente da Terra”, afirma a Dra. Neusa Paes Leme, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) que coordena o projeto Atmosfera Antártica e suas conexões com a América do Sul, onde o estudo da camada de ozônio e da radiação ultravioleta é um dos objetivos.
Segundo a pesquisadora, em 2007, a redução da concentração do ozônio na camada foi 15% menor do que em 2006, quando foi registado um novo recorde em tamanho e destruição da camada de ozônio. A concentração do gás CFC (Cloro-Flúor-Carbono), responsável pela destruição do ozônio, ainda é alta e os modelos indicam que a camada só estará normal em 2060, se comparada com a concentração de 1980.
A camada de ozônio é monitorada em Ferraz, no período de agosto a março, desde 2001 e em campanhas especiais em setembro e outubro, desde 1992. No período da ocorrência do buraco de ozônio, a concentração sobre Ferraz é reduzida em torno de 65% e a radiação UV pode aumentar em 500%, atingindo valores de regiões tropicais.
Além da pesquisa sobre a camada de ozônio, o INPE também tem projetos ligados ao estudo da alta, média e baixa atmosfera, meteorologia, aquecimento global, gases do efeito estufa, a radiação ultravioleta, a relação sol-atmosfera (clima espacial), o transporte de poluição e oceanografia.
Os pesquisadores estão elaborando em Ferraz três publicações com dados dos projetos para periódicos científicos. O projeto de meteorologia produziu um documento com informações sobre o clima da região com registros da temperatura de Ferraz desde 1986 e da Baia do Almirantado desde 1949. Confira aqui o artigo assinado pelos pesquisadores Alberto Setzer e Marcelo Romão.
Outras atividades
Durante esta temporada foram realizadas outras atividades como instalação da antena GPS, manutenção do sistema de registros meteorológicos da torre de coleta de dados, e a instalação de uma nova web-câmera no módulo do projeto Geoespaço para monitorar simultaneamente a entrada da Baía do Almirantado e arredores da Estação Antártica Comandante Ferraz. As imagens estão disponíveis ao público no site do projeto da Meteorologia.
Foi testado o robô para levantamento fotográfico e obtenção de imagens de vídeo das formas de vida marinha encontradas no fundo da Baía do Almirantado. Operado de forma remota, o robô, especialmente adaptado para executar missões de exploração nas águas geladas, realizou cinco mergulhos, atingindo 26 metros de profundidade.
Entre o material coletado estão amostras de água do mar para o estudo da estrutura da comunidade do microfitoplâncton em função das variações de maré e amostras de matéria orgânica dos principais tipos de solos da Antártica Marítima. Um dos objetivos é o estudo da introdução de poluentes oriundos de outras áreas do planeta no ecossistema antártico.
Nas pesquisas envolvendo a fauna antártica – região onde se reproduzem cerca de 40 espécies de aves, sendo oito espécies de pingüins e as demais espécies são aves voadoras –, foi realizado o monitoramento do vírus da Influenza Aviaria e o Vírus da Doença de NewCastle em Pingüins da Ilha Rei Jorge, além do estudo das condições ambientais extremas da Antártica, como o frio intenso, que influenciam as características fisiológicas, reprodutivas e comportamentais das espécies que vivem ou se reproduzem neste ambiente.
Segundo os pesquisadores, a primeira fase de atividades de vários projetos teve a rotina alterada em função da total ausência de água no sistema de abastecimento da Estação Ferraz, o que modificou alguns dos objetivos previstos, pois as medições que dependem desse recurso seriam impraticáveis ou corriam o risco de gerarem dados inverídicos em relação ao padrão usual de Ferraz.
(Envolverde/Mercado Ético, 21/01/2008)