Porto Alegre (RS) – As atividades agrícolas vêm desempenhando um papel cada vez mais devastador sobre o meio ambiente. Um relatório da Organização Não-governamental Greenpeace mostra que a agricultura hoje é uma das maiores fontes de emissão de gases do efeito estufa, causadores do aquecimento global.
O documento Mudanças do Campo, Mudanças do Clima, mostra que a agricultura baseada no uso intensivo de energia e produtos químicos vem provocando um aumento nas emissões de gases de efeito estufa. Isso ocorre em função do excessivo uso de fertilizantes, e práticas como desmatamento e criação intensiva de animais. Segundo a bióloga da Fundação Zoobotânica Luiza Chomenko, é preciso pensar não apenas no impacto de um produto em si, mas sim em toda a sua cadeia de produção, especialmente a do agronegócio.
“Tu tens um produto em si, que muitas vezes libera, mas tem uma coisa antes. Para produzir esse agrotóxico, tu tens um processo industrial. Se aí for fazer o balanço do CO2, vai ver que é altamente poluidora a agricultura. E ela vai ser poluidora depois também. Na hora em que vai colher, precisa de grande maquinário, novamente tem que usar combustível, tem que fabricar a máquina, de novo vai consumir energia, liberar CO2”, explica.
Para a bióloga, a agricultura familiar se constitui em uma das formas mais sustentáveis de produção, pois não utiliza um maquinário tão pesado como o agronegócio e nem agrotóxicos tão potentes. No entanto, em vez de haver um incentivo para os pequenos produtores, ocorre o incentivo do plantio em larga escala de matéria-prima para biocombustíveis. Segundo Luiza, lembra que essa matéria-prima provém das monoculturas, grandes responsáveis pela destruição dos ecossistemas naturais.
“Nós estamos produzindo basicamente biodiesel a partir da soja. Embora haja outros produtos passíveis de serem utilizados, nós usamos a soja, que há muito tempo deixou de ser qualquer coisa ecologicamente correta”, diz. Na avaliação de Luiza, a solução para muitos problemas ambientais, como o aquecimento global, passa pela conscientização dos cidadãos e pela revisão do atual modelo econômico, baseado no consumo excessivo.
“Tu vê que nós estamos discutindo hoje mudança no uso do combustível. Mas nós não estamos discutindo mudanças do modelo de transporte. Cada vez mais carros mais potentes, estradas mais saturadas. Essa é uma política que mundialmente deveria começar a ser discutida e revista”, afirma.
De acordo com o relatório do Greenpeace, a contribuição da agricultura para as mudanças climáticas é estimada entre 8,5 bilhões e 16,5 bilhões de toneladas de dióxido de carbono. Isso representa entre 17% e 32% de todas as emissões de gases do efeito estufa causadas pelo homem.
(Por Patricia Benvenuti,
Agencia Chasque, 18/01/2008)