Apesar de manter unidades e escritórios em várias partes do planeta, a todo-poderosa Gerdau escolheu o pequeno município de Guaíba (distante 30 km de Porto Alegre), para despejar seu lixo industrial. O caso começou em 2005 quando ambientalistas descobriram, por acaso, que a empresa havia comprado um terreno de cerca de 100 hectares limítrofe à Eldorado do Sul para construir um aterro industrial.
Jarbas Cruz, da Associação Amigos do Meio Ambiente de Guaíba, ressalta que o terreno em questão é muito próximo a nascente do Arroio Passo Fundo. “Lembro que quando representantes da empresa estiverem em Guaíba, tive a nítida sensação de que nem mesmo eles sabiam da existência dessa nascente”, recorda.
O ambientalista diz que a última informação que teve sobre o projeto foi em dezembro de 2006. “Havia comentários de que a Gerdau teria entrado com processo de licenciamento junto à Fepam, mas nada foi confirmado”. Cruz suspeita que a empresa tenha desistido da idéia graças à repercussão negativa, tanto por parte dos moradores, quanto de alguns vereadores na época. “Acho que a questão da imagem foi fundamental para que esquecessem o projeto, pelo menos é o que parece”, diz.
Ninguém sabe, ninguém viuAtolada em
denúncias de contração sem concurso público, sucateamento e de
facilitar o licenciamento de projetos de grandes empresas, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), por meio de sua equipe técnica e assessoria de comunicação, informa que não há nenhum processo sobre o tal aterro em andamento na casa.
O secretário de Desenvolvimento de Guaíba, Vitório Menegoto, um dos poucos a apoiar o projeto, lamenta o “sumiço” da empresa. Ele afirma que conheceu tecnicamente o projeto do aterro, mas admite que a empresa errou na estratégia. Para ele, a Gerdau começou errada porque escondeu de todos que já havia comprado a área. “Ficou difícil entender essa postura”.
Menegoto conta que chegou a marcar uma reunião na Câmara Municipal com os técnicos da Gerdau e da Fepam para que eles detalhassem o projeto do aterro. “Essa reunião foi agendada porque havia um movimento contrário à instalação do aterro, mas mesmo assim, a empresa simplesmente não compareceu e tive que defender o projeto sozinho”. “Aliás, se você descobrir o que aconteceu com a Gerdau, me conte”, brinca.
Um dos opositores da instalação do aterro industrial foi o vereador Caio Larréa (PPS). Ele acredita que um empreendimento deste tipo não traria nenhum benefício aos moradores de Guaíba. “Muito pelo contrário, já que o terreno fica às margens de um arroio, que já é poluído”, argumenta. O parlamentar, que na época chegou a se reunir com representantes da empresa em Porto Alegre, salienta que a Gerdau tem várias unidades e negócios nas cidades próximas. “Para Guaíba, não há benefício algum, apenas o prejuízo, só o lixo”, critica.
Nem Gerdau sabe o que aconteceuNão são somente os moradores, políticos e ambientalistas de Guaíba, que não sabem o que houve com o projeto do aterro. A reportagem do Ambiente JÁ tentou, por quatro dias, obter alguma informação e até o fechamento desta edição, não obteve sucesso. A assessoria de imprensa da Gerdau explica, com muito esforço, diga-se de passagem, mas sem nenhum sucesso, “que a burocracia para se obter informações é grande realmente”. Essa dificuldade da Gerdau em lidar com a imprensa, quando não é para lhe jogar confetes, é bastante conhecida no meio. Um veterano repórter lembra o episódio da d
enúncia de poluição industrial em 2001.
Na ocasião a empresa foi denunciada pela ONG, por contaminar o meio ambiente e a população com Poluentes Orgânicos Persistentes como ascarel e metais pesados. “A contaminação por ascarel, é um atentado à natureza e à saúde humana. Casos como o da Gerdau não podem ser tolerados”, disseram os ambientalistas na época.
(Por Carlos Matsubara, Ambiente JA, 22/01/2008)