Uma pesquisa realizada na Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP) resultou num inédito sistema para tratamento de efluentes que possibilita o reúso da água de esgoto doméstico em atividades do setor produtivo.
O sistema piloto, que combina o tratamento por lodos ativados ao uso de membranas de ultrafiltração, foi o resultado do doutorado defendido por Ricardo Nagamine Costanzi no Centro Internacional de Referência de Reúso de Água da Poli.
De acordo com Costanzi, que é professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), em Londrina, o objetivo do estudo era contribuir com soluções que pudessem amenizar a escassez de água em São Paulo.
“A idéia era propor um sistema que pudesse tratar o esgoto e retornar a água com uma qualidade viável para reúso. Seria uma alternativa ao uso de água potável no processo industrial, que geralmente representa um desperdício financeiro e ambiental”, disse Costanzi à Agência FAPESP.
O principal diferencial do sistema, segundo o pesquisador, é a combinação das duas técnicas. Nos sistemas convencionais, além de uma desinfecção com cloro, a água de esgoto passa por um tratamento com lodos ativados.
“Esses sistemas possuem bactérias que consomem substâncias como o carbono, o nitrogênio e o fósforo. Assim, a água pode ser devolvida aos rios e córregos com menos impacto ambiental”, explcou. Segundo Costanzi, o protótipo foi instalado no sistema de coleta de esgoto dos conjuntos residenciais da USP, na Cidade Universitária.
O novo sistema utiliza a mesma técnica biológica associada a uma nova etapa: um sistema de membranas capaz de reter as bactérias antes da desinfecção. “É um tipo de filtragem que deixa a água completamente livre das bactérias. Passam no máximo alguns vírus, que são facilmente eliminados com a desinfecção”, afirmou o cientista.
De acordo com o professor, a água produzida pelo sistema tem qualidade substancialmente melhor que a dos tratamentos tradicionais. “Fizemos diversos tipos de análises laboratoriais e constatamos que a presença de sólidos suspensos foi zerada. A membrana deixou passar apenas alguns sólidos dissolvidos e sais. Visualmente, parece água de torneira”, disse.
A membrana atua como uma barreira seletiva devido ao tamanho de seus poros e às características físico-químicas dos materiais que a compõem. Além de sistemas produtivos industriais, a água de reúso poderia ser utilizada para irrigação, lavagem de ruas e outras atividades que dispensem o uso de água potável, segundo Costanzi.
O pesquisador afirma que existem sistemas similares, mas nenhum deles aplicável ao tratamento de esgoto doméstico. “Como o piloto foi um sucesso, queremos estudar melhor os dados de operação e qualidade da água de saída para, em seguida, passarmos o sistema para uma escala maior”, afirmou.
O pesquisador diz que, para aplicação do sistema em grandes centros urbanos, será preciso estudar as condições logísticas de distribuição – as estações de tratamento precisam estar próximas das indústrias, já que a tubulação de água potável e esgoto não pode ser utilizada – e também o custo do processo, que não foi avaliado na pesquisa.
“Sabemos que, para ser viável, a água de reúso precisa custar entre R$ 1 e R$ 3 por metro cúbico. O próximo passo das pesquisas será definir os custos operacionais. Se conseguirmos um valor próximo desse, já valerá a pena, pois a qualidade da água é melhor”, declarou.
(Por Fábio de Castro, Agência Fapesp, 21/01/2008)