Informado que só em Manaus, onde vivem mais de 1,8 milhão de habitantes, quase 700 mil não dispõem de água encanada em suas casas, o ministro de Assuntos Estratégicos Roberto Mangabeira Unger mudou a defesa sobre um dos pontos mais polêmicos de seu projeto Amazônia: a construção de aquedutos para levar água dos rios da região para o Nordeste. "É um paradoxo faltar água para os habitantes da Amazônia com toda a abundância dos rios. Primeiro precisamos providenciar que os habitantes da região possam usar essa água", afirmou o ministro.
Sob críticas de que o projeto Amazônia vem sem novidades e propõe prazo longo a necessidades atuais, a constatação do ministro chegou sem surpresas, num clima de ceticismo entre cientistas e empresários amazonenses. "Qualquer iniciativa em prol do desenvolvimento da Amazônia não pode prescindir do que já foi conquistado pela política atual do governo federal na região. Não vislumbramos como substituir, de uma hora para outra, uma dinâmica econômica com as dimensões e os efeitos sociais e ambientais que ela registra", afirmou a superintendente da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) Flávia Grosso.
"Precisamos de políticas a curto prazo como, por exemplo, incluir na discussão da reforma tributária deste ano um fundo de gerência nacional para premiar os Estados que preservam a floresta", sugeriu a deputada federal Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). Para um cientista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), o projeto de Unger não prevê um dos componentes principais ao desenvolvimento da região: a educação e formação de recursos humanos. "Não há dois mil cientistas na região, então tem de ser criada uma política para atrair e manter cérebros trabalhando em prol do desenvolvimento local", considerou.
(Agência Estado, 18/01/2008)