Rio Grande - Há cerca de 30 anos a localidade chamada de Parque dos Cata-ventos começou a ser povoada. As casas que atualmente abrigam cerca de 40 famílias só podem ser vistas bem de perto, já que se escondem na mata nativa mantida próximo às dunas da beira da praia do Cassino. O convívio com a natureza é ainda mais intenso. Toda a energia utilizada é proveniente de cata-ventos e placas de captação da energia solar.
O Parque dos Cata-ventos não é muito conhecido e recebe poucos visitantes. A vida alternativa é mantida por alguns que vivem lá o ano inteiro e por outros que aparecem apenas no período de veraneio. As casas, construídas com bons materiais, possuem toda a estrutura, mas a localidade não é atendida pela Companhia Rio-grandense de Saneamento (Corsan) nem pela Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE).
“Foi por isso que começamos a investir nas energias alternativas. Temos geladeira, televisão e tudo o que vocês possam imaginar, sem termos eletricidade. Tudo aqui é resultado do vento que aciona os cata-ventos e da energia solar captada pelas placas. Quem vem aqui se impressiona”, conta o morador João Schuh. O Parque dos Cata-ventos fica a seis quilômetros da imagem de Iemanjá, seguindo pela beira da praia, em direção ao navio encalhado.
Schuh vive no Parque com a esposa há dois anos. É aposentado pela Secretaria Estadual de Agricultura e optou pela vida junto à natureza, acreditando que essa é uma alternativa para a longevidade e a qualidade de vida. Os cata-ventos e as placas solares carregam baterias que fazem com que os eletrodomésticos funcionem. “Não temos problemas porque estamos pertinho da praia e é difícil encontrarmos um dia sem vento”, relata. A geladeira é a gás, a televisão a bateria e o banho quente garantido pelo sol que bate todo o dia na caixa d´água. “A energia alternativa também faz funcionar uma bomba que tira água de oito metros abaixo da terra. Precisamos da natureza para viver e por isso cuidamos muito bem dela. Plantamos árvores, mantemos as que já existem e captamos água da chuva, que não pode ser desprezada. Às vezes, consigo dois mil litros de água, só com a chuva”, orgulha-se.
Alimentos
Em algumas casas os moradores chegam a manter antenas parabólicas. Mas não é o “luxo” que conseguem manter com a energia alternativa o motivo de exibimento, mas sim as hortas e pequenas plantações. “Produzimos o que precisamos para comer e o resto doamos. Temos viveiros e produzimos mudas. É uma beleza. O único problema é que antes de virmos para cá muita gente depositava lixo aqui. Quando vou plantar acabo encontrando sacolas plásticas enterradas e, mesmo assim, conseguimos manter nossas flores”, emociona-se Schuh.
O Parque dos Cata-ventos é uma área de preservação e os moradores não contribuem com impostos. A situação está em análise pela Justiça. “Quando viemos para cá achávamos que poderíamos legalizar nossa situação. Não queremos sair daqui. Queremos cumprir com nossos deveres e continuar fazendo parte deste paraíso”, diz Schuh. As famílias mantêm as alternativas energéticas sem conhecimentos técnicos e recebem auxílio do Instituto de Desenvolvimento de Energias Alternativas.
(Por Débora Lucas, Diário Popular, 20/01/2008)