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energia nuclear nos EUA
2008-01-18
Waynesboror, Estados Unidos – Enquanto mais de 10 empresas se preparam para abrir novas usinas de energia nuclear nos Estados Unidos, principalmente no sul do país, moradores de regiões afetadas e ambientalistas questionam o governo e grandes companhias por afirmarem que são seguras. Gigantes energéticos como Southern Company, Energy e Florida Power and Light são atraídos por milhares de milhões de dólares em incentivos governamentais oferecidos pelo governo de George W. Bush.

“O governo federal desembolsa uma série de incentivos para tentar fazer as empresas públicas voltarem ao jogo”, disse à IPS Glenn Carroll, da organização não-governamental Nuclear Watch South. O Congresso norte-americano aprovou em dezembro seguros de empréstimos no valor de US$ 38,5 bilhões para a indústria nuclear. “Se eles não podem ou não querem devolver o empréstimo, o governo os garantirá nos bancos em até 80%”, explicou Carroll.

Cinco regiões já se candidataram para as primeiras licenças combinadas em 32 anos, disse à IPS Roger Hannah, porta-voz da Comissão Reguladora Nuclear (NRC). Essas áreas ficam no sul do Estado do Texas; em Bellefonte, no Alabama; Calvert Cliffs, em Maryland; North Anna, na Virginia, e Lee Site, na Carolina do Sul. Quatro empresas se candidataram para as permissões em Grand Gulf, no Mississippi (sul); Clinton e Illinois (centro); North Hanna, na Virginia (oeste), e Plant Vogtle, na Geórgia (sudeste). “Temos ainda demonstrações de interesse de mas 12 ou 15 companhias”, afirmou Hannah.

A NRC fez uma audiência pública em Waynesboro, na Geórgia, uma das cidades mais afetadas por Plant Vogtle, no dia 4 de outubro passado, para examinar seu Projeto de Declaração de Impacto Ambiental. A NRC deve produzir este documento, segundo a Lei Nacional de Políticas Ambientais, de 1970. Este órgão insiste em afirmar que os riscos apresentados pela energia nuclear são pequenos e estão dentro de parâmetros federais. Mas, os ativistas alegam que o projeto de declaração ignora muitos assuntos e afirmam que a energia nuclear é insegura.

Em um momento em que a Geórgia atravessa uma seca histórica, quando os habitantes dizem que o Estado está ficando sem água potável, a NRC e outras agências permitem que cerca de um bilhão de galões de água por ano procedentes do rio Savannah sejam consumidos pelas unidades 1 e 2 de Plant Vogtle, no condado de Burke. “Vogtle terá seu fornecimento de água às custas de todos os demais”, disse William Mareska, de Augusta, durante a audiência. “Existe apenas um sistema hídrico. É a mesma água”, afirmou à IPS Janet Marsh, diretora-executiva da Liga de Defesa Ambiental de Blue Ridge, em uma entrevista por telefone.

A IPS reviu o projeto de declaração, de aproximadamente 600 paginas, onde se explica que as propostas unidades 3 e 4 de Plant Vogtle consumirão 1,76 metros cúbicos por segundo, em média, equivalente a 0,7% e 1,7% das águas do rio por ano, segundo o documento. Essa porcentagem equivale a cerca de 55 milhões de metros cúbicos anuais, de acordo com cálculos da IPS confirmados pela NRS. “Isto é mais do que o consumido por todos os moradores de Atlanta, Savannah e Augusta (as cidades mais povoadas da Geórgia) combinados”, assegurou Sara Barczak, a ONG Aliança Meridional para a Energia Limpa.

Embora a chuva alimente novamente o rio, a NRC calcula que a “redução resultante no caudal do rio será de cinco centímetros cúbicos no nível 3 das condições de seca, e de 2,5 em condições de descarga media” a cada ano. Além disso, as usinas também consumirão, em média, quase 2.300 litros por minuto procedentes de dois aqüíferos, segundo o Projeto de Declaração de Impacto Ambiental. Um aqüífero já perdeu 4,6 metros de água desde que as unidades 1 e 2 de Vogtle iniciaram suas operações em 1987. A redução das águas resultante das unidades 3 e 4 sera de 2,1 metros após 30 anos de operações normais, diz a declaração. “Estas reduções são pequenas em comparação com os 120 metros” do aqüífero, conclui o documento.

O produtor rural Doug Rhodes, que vive bem ao lado das unidades 1 e 2, disse à NRC que “há meia dúzia de poços de água rasa. Se tivermos um problema com os poços, o que acontecerá? A Southern Company disse que manejaria a infra-estrutura. Por que não se fez isso?”, perguntou. “Nas últimas semanas tivemos informações de que agricultores da região precisaram cavar poços mais profundos para irrigar suas terras e também que foi necessário fazer perfurações adicionais para as casas. Os moradores do lugar culpam pelo problema a Vogtle. A idéia de duas novas usinas nucleares causa uma preocupação real”, disse Marsh.

A NRC não ouviu Rhodes nem outros produtores, mas agências locais a infomaram que o consumo de água não representaria um risco para os poços, disse Hannah à IPS. Não está claro como a redução do nível do rio e dos aqüíferos terá um impacto pequeno, mesmo segundo as regulamentações da própria NRC. A definição legal de um pequeno impacto é quando “os efeitos ambientais não são detectáveis ou são tão menores que nem se desestabilizariam nem alterariam de maneira significativa nenhum atributo importante do recurso”

“Por acaso uma queda do volume de água de dois metros em 30 anos não se detecta nem é visível? A NRC alegou que não é. Um agricultor que vive ao lado de uma usina, usando água de poço para irrigação, teria de notar alguma mudança no recurso hídrico. Não queremos dizer que um cientista que use equipamentos não poderia notar alguma diferença, mas, não será percebida por um usuário do recurso”, explicou Hannah. As novas unidades de Plant Vogtle, como qualquer outro reator nuclear, emitirão o que a NRC considera pequenas quantidades de contaminação radioativa através de efluentes líquidos e gaseificados.

No rascunho de declaração a NRC estabelece que as quantidades de radioatividade projetada são menores do que as “doses” permitidas por legislação federal para o público. “Atualmente não há dados que estabeleçam sem erro o surgimento de câncer após a exposição a doses inferiores a mil milisieverts e em doses baixas”, acrescenta o texto. Mas, segundo um estudo de Joseph Mangano, desde que foram inauguradas as unidades 1 e 2 “a proporção de mortes por câncer em crianças e adolescentes nos 11 condados mais próximos a Vogtle aumento 58,5%, comparado com uma redução nacional de 14,1%.

O estudo se baseia em dados da Southern Company e dos Centros para o Controle e a Prevenção de Enfermidades, dos Estados Unidos. “Durante os mesmo períodos, a mortalidade no condado de Burke cresceu muito devido a todos os tipos de câncer, especialmente, entre negros, crianças e adultos jovens, enquanto no resto do país houve redução”, continua o estudo. Mangano disse à IPS que, segundo sua pesquisa, o condado de Burke originalmente teve registros de câncer menores do que o resto do Estado. “Em um povoado rural, sem indústria, o câncer seria mais baixo. Não considerar a evidência sobre o aumento da radioatividade e do câncer nesta área é agir de maneira irresponsável e perigosa”, afirmou.

“Não estou aqui para dizer se a Sociedade Norte-americana do Câncer apóia os dois novos reatores em Plant Vogtle, mas para dizer-lhes que Plant Vogtle apoiou a Sociedade Norte-americana do Câncer”, afirmou na audiência a porta-voz Theresa Carter. Funcionários locais também elogiaram Plant Vogtle na audiência e disseram que apóiam os novos reatores. “Temos muita gente aqui que depende de Plant Voglte. Eles são muito amigáveis com esta comunidade”, resumiu o comissário do condado, Alphonso Andrews.

(Por Matthew Cardinale, IPS / Envolverde, 17/01/2008)

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