Estudo realizado pela Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace) mostra que apesar das estimativas oficiais, o descompasso entre a oferta e a demanda de energia no Brasil já é uma realidade.
Dados de 2004 do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) indicavam que no ano passado haveria 56.937 megawatts médios de garantia física – a quantidade de energia elétrica que pode ser contratada a longo prazo pelas geradoras. Segundo a Abrace, no entanto, com base em informações de novembro passado do ONS, que o montante disponível era de 50.464 megawatts médios. Ou seja, havia uma defasagem de 6.473 megawatts médios de garantia física.
Entre 2005 e 2007 a demanda cresceu 7,9%, enquanto a oferta de energia para comercialização recuou 9,4%. Segundo a diretora-executiva da Abrace, Patrícia Arce, “o resultado disso é que as usinas, especialmente as hidrelétricas, têm que gerar acima da média prevista por elas. E além da redução no nível dos reservatórios, temos um preço extremamente volátil, porque o sistema está sem opção. Mesmo sem chuvas e numa situação ruim, o sistema é obrigado a gerar as hidráulicas".
Ela disse acreditar em agravamento desse descompasso neste ano, quando o consumo de energia deverá crescer cerca de 5% em relação a 2007. E informou que, na verdade, a demanda de 6 mil megawatts médios existia até o ano passado, mas foi retirada do sistema devido à interrupção na exportação de energia da Argentina para o Brasil. Também contribuíram para esse quadro "as térmicas da Petrobras, retiradas do sistema por falta de gás”.
Para Patrícia Arce, "essa energia que saiu devia ter sido reposta por meio de leilões de novas usinas e a única possibilidade que se tem agora é aumentar a oferta”. O problema principal para os consumidores, avaliou, é que não existe mais garantia física disponível, descontratada, para 2008 e 2009. “A gente fica sem opção de ter novos contratos e os preços, proibitivos. Isso prejudica o crescimento do setor, limitado aos contratos já firmados de energia", explicou.
Para reduzir o descompasso entre oferta e demanda, ela sugeriu como primeira medida a entrada em operação das usinas térmicas a gás natural. E citou a necessidade de apressar os investimentos, incluindo a importação de gás natural liquefeito (GNL) e a tentativa de ampliar o volume de gás proveniente da Bolívia, além da diminuição do consumo nas refinarias próprias pela Petrobras.
“As termelétricas a gás são o único caminho para amenizar a situação no setor", disse, e acrescentou: "As usinas podem gerar além da garantia física – o problema seria a contratação. Para garantir um aumento de produção e de consumo, principalmente na indústria, é essencial que a gente tenha contratos de energia”.
(Por Alana Gandra
, Agência Brasil, 17/01/2008)