O ministro da Cultura, Gilberto Gil, juntou-se à tarde à comitiva do ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, que visita a Amazônia.
Em entrevista coletiva, ele defendeu a iniciativa de discutir estratégias de desenvolvimento econômico para a região. “Estou aqui para fazer a defesa do documento apresentado pelo professor Mangabeira”, disse Gil, em referência ao texto escrito pelo ministro extraordinário para “provocar e orientar os debates” com cientistas, governadores e representantes do setor produtivo e da sociedade civil do Pará e do Amazonas.
“O documento, muito claro, fala de coisas práticas, de uma refundação do Brasil político-institucional a partir da Amazônia. Fala da extraordinária contribuição que o país pode dar a si próprio e ao mundo. De como libertar a Amazônia do cerco a que ela vive submetida devido ao isolamento, à lógica do nicho sagrado e intocado que muitos querem fazer prevalecer”, acrescentou.
Indagado se há tempo para que ações de longo prazo sejam desenvolvidas na região, Gil se mostrou irritado: “Só tem [tempo] para ações de longo prazo. No curto prazo é a depredação. Ações de curto prazo são os abusos, não o uso racional, que só virá de um pensamento estratégico.”
O ministro evitou falar das ações na área da cultura para a região e limitou-se a citar o programa Mais Cultura, lançado em outubro passado e que prevê investimentos da ordem de R$ 4,7 bilhões até 2010.
Sobre a possibilidade de rediscutir a política cultural, com uma maior descentralização das ações ministeriais, Gil disse já estar trabalhando com essa perspectiva. No fim da entrevista, a assessoria do Ministério da Cultura distribuiu documento em que cita algumas das ações consideradas estratégicas para a Região Norte em 2008.
Além da continuidade do Mais Cultura, o ministério pretende lançar e apoiar programas de capacitação para agentes culturais; o programa Amazônia Mais Cultura, em parceria com o Banco da Amazônia e com lançamento previsto para 27 de fevereiro; e o Sistema de Gestão do Patrimônio Arqueológico Brasileiro. O texto também indica que de 2003 a 2007 foram investidos cerca de R$ 72,1 milhões na região.
Embora seja um artista popular, Gilberto Gil enfrentou hoje situação semelhante às vividas por Mangabeira Unger na viagem: durante a reunião na Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), pediu para fazer, cantando, um "comentário pitoresco". Ao conceder-lhe a palavra, a superintendente Flávia Barbosa Grosso o chamou de Raul Gil.
Já o nome do ministro extraordinário foi trocado por diversos outros, como Valdomiro. E ontem (16) Mangabeira Unger foi surpreendido por um repórter que disse estar conversando "com o ministro Maurício Unger".
(Por Alex Rodrigues, Agência Brasil, 17/01/2008)