O baixo preço do biodiesel e os altos custos de produção são fatores temporários e não devem atrapalhar os planos da Petrobras de se tornar líder nesse segmento, afirmou à Reuters a diretora de Gás e Energia da empresa, Graça Foster, descartando no entanto qualquer tipo de subsídio.
Em junho, com atraso de um mês, a companhia inicia a produção em três plantas próprias, que somam 170 milhões de litros anuais, e se prepara para construir uma megausina no Nordeste com produção de até 400 milhões de litros de biodiesel por ano.
"A gente espera com isso deixar claro nosso marco como produtor relevante de biodiesel", afirmou a diretora, que ainda depende da aprovação da diretoria da Petrobras para iniciar as obras.
Os planos da estatal são de produzir 900 milhões de litros por ano a partir de 2012.
A nova planta, prevista para entrar em operação até o segundo trimestre de 2010 se aprovada, terá tecnologia desenvolvida pela Petrobras e será "altamente eficiente do ponto de vista energético, com uma estruturação totalmente diferente do que é hoje", disse Graça.
Ela explicou que a idéia é estruturar toda a cadeia, do fornecimento à distribuição, com o maior peso possível da agricultura familiar, e usar a combinação de várias oleaginosas para otimizar o custo. "Se estou com problemas na soja rodo com óleo de algodão, ou dendê", explicou.
"É uma integração absoluta da produção do óleo, da esterificação, e da colocação desse biodiesel no mercado através de uma logística madura como é a logística da BR Distribuidora", disse a ex-presidente do braço de distribuição de combustíveis da estatal. A produção poderá ser para consumo interno e exportação, ressaltou.
PreçoA diretora afirmou estar preocupada com a redução de quase 25 por cento do preço do biodiesel, enquanto a soja dispara no mercado --essa oleaginosa é a principal matéria-prima do biodiesel produzido no Brasil. Ela avaliou que isso pode refletir estoques feitos por alguns produtores, além de uma forte competição, mas que até o final do ano os preços vão se recuperar.
"Os novos leilões (do governo) vão resolver o problema, porque não é possivel produzir nesse preço", disse, referindo-se aos leilões da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Ela descartou também problemas de entrega do biodiesel contratado nos leilões realizados pela ANP nos últimos dois anos, lembrando que as empresas que participam desse segmento estão investindo pesado e tem uma imagem a preservar.
"Nós acreditamos que, como existem contratos, prevalecerá a produção, e (as empresas) atenderão a demanda, até porque existem penalidades", explicou.
O país precisa produzir 840 milhões de litros de biodiesel por ano para atender a atual obrigatoriedade da mistura de 2 por cento do produto ao diesel, com possibilidade de a porcentagem aumentar para 5 por cento a partir de 2010.
Atualmente, o Brasil tem 18 plantas em operação com capacidade instalada para 2 bilhões de litros. Segundo Graça, existem mais 47 plantas em construção e, até dezembro, o país terá capacidade para produzir 3,8 bilhões de litros.
Para a executiva, à medida que o mercado de biodiesel amadurecer não haverá mais necessidade de leilões governamentais, e o próprio mercado vai ditar o preço. E é para isso que a Petrobras precisa crescer nessa área.
"Só vale a pena entrar grande para ter atuação na formação de preço", avaliou, descartando, no entanto, qualquer indício de monopólio no setor.
"Vamos disputar o mercado, que é livre, aberto, mas quando a Petrobras entra faz a diferença, mas não vamos tirar ninguém", afirmou.
(Por Denise Luna,
Power Energéticas / Reuters Brasil, 16/01/2008)