Projeto nuclear brasileiro não vai perder recursos em conseqüência do impacto causado pelo fim da CPMFOs R$ 130 milhões destinados ao programa nuclear brasileiro em 2008 estão garantidos. O empreendimento, considerado estratégico pelo governo, que o associa diretamente ao plano de expansão da malha de usinas elétricas, não vai perder recursos em conseqüência do impacto causado pelo fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) no Orçamento da União deste ano.
Segundo o ministro da Defesa, Nelson Jobim, há cinco dias o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ‘‘reafirmou a garantia de manutenção dos meios para o bom andamento do programa nuclear’’. O processo envolve o prosseguimento da investigação tecnológica do Centro Aramar, que a Marinha mantém em Iperó, a 130 quilômetros de São Paulo, onde são construídas as ultracentrífugas, máquinas de alta sofisticação destinadas a enriquecer o urânio que serve de combustível para reatores geradores de energia.
No dia 17, Jobim e o comandante da Marinha, almirante Júlio Soares de Moura Neto, farão uma apresentação do projeto para o presidente. Lula vai saber que os cientistas de Aramar têm prontas duas novas gerações de ultracentrífugas, ao menos 40% mais eficientes que as atualmente em uso pelas Indústrias Nucleares do Brasil (INB). Uma terceira série, ainda em testes, deve estar disponível em 2011. O projeto e a construção são nacionais.
O centro cuida também dos planos de criação dos sistemas compactos de propulsão nuclear para um submarino de ataque. Embora tenha sido descartado como prioridade da Marinha em fevereiro de 2006, acabou sendo resgatado em 2007, na redefinição do plano de reaparelhamento. É um objetivo de longo prazo.
Onze anosO tempo previsto para que os técnicos da força naval projetem e construam uma unidade é de 11 anos. Antes disso, porém, será necessário testar e completar um reator PWR (de água pressurizada) de 48 MW. A rigor, o equipamento está pronto. Em Aramar, as grandes peças de precisão que compõem o conjunto estão armazenadas em ambiente de gás liquefeito para impedir a deterioração. Aguardam a conclusão das obras do Laboratório de Geração Nucleoelétrica, o LabGene. Os prédios estão limitados às fundações.
A retomada ainda este ano permitiria a entrada em operação por volta de 2011. Só reator que permanece desmontado vale US$ 130 milhões. Expandido, ele servirá à produção de eletricidade a partir de usinas regionais. O governo pretende construir oito centrais — duas delas no Sudeste do País.
O Centro Tecnológico da Marinha (CTMSP) precisa de R$ 1,040 bilhão para completar as etapas estratégicas do empreendimento: ciclo do combustível, geração de energia, propulsão e infra-estrutura. O almirante Carlos Bezerril, diretor do CTMSP, estima que o processo exigirá sete anos.
Quase todo o investimento no programa nuclear tem sido feito pelo Comando da Marinha, com recursos próprios e cada vez menores. As aplicações, desde 1979, somam US$ 1,117 bilhão e, desse total, só US$ 216 milhões vieram de outras fontes governamentais.
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Diário do Nordeste, 16/01/2008)