Para ministro, que visita Pará e Amazonas, a transposição é necessária porque na região "sobra água inutilmente" Ministro do Longo Prazo ainda propõe novo tributo para exploração de recursos minerais e educação de índio em mais de uma língua
Em viagem à região amazônica, o ministro Roberto Mangabeira Unger (Secretaria de Planejamento de Longo Prazo) apresentou uma proposta de transposição de água da Amazônia para o Nordeste.
O ministro argumenta que a ligação é necessária porque "numa região sobra água inutilmente e na outra falta água calamitosamente". A proposta faz parte do "Projeto Amazônia", em que o desenvolvimento sustentável da região é discutido por Mangabeira e sua comitiva, de 35 pessoas, entre assessores da pasta, parlamentares e representantes do setor privado.
O senador José Nery (PSOL-PA), que participa das reuniões, diz não ver necessidade nem estrutura para a realização de uma obra desse porte.
"Essas tentativas [de desenvolvimento sustentável da Amazônia] já são feitas há anos, mas nunca saem do papel. Por isso eu diria que temos motivos para desconfiar das propostas. Sobre o aqueduto, não parece que isso encontre muito apreço. Não vejo como algo exeqüível nem necessário", disse ele.
O próprio governo prioriza outro projeto para tentar solucionar o problema da falta de água no Nordeste: a transposição de águas do rio São Francisco, principal obra do governo, orçada em mais de R$ 5 bilhões.
Outra idéia do ministro é criar um novo tributo para a mineração. O plano prevê a criação de um imposto que teria de ser pago pelas empresas que não processarem os recursos lavrados dentro da região. O intuito é fazer com que o setor beneficie o minério na região.
O projeto também elenca o desenvolvimento das aldeias indígenas com educação em mais de uma língua e mais de uma cultura. Para o ministro, essa seria uma forma de mudar o quadro de falta de instrumentos e oportunidades.
Sobre a Zona Franca de Manaus, Mangabeira quer substituir a indústria de montagem atual pela de transformação, o que pode viabilizar, diz ele, o desenvolvimento sustentável.
Outra idéia é usar áreas já desmatadas para projetos de agricultura e pecuária em pequena escala, além do manejo controlado da floresta com uso rotativo das árvores, compensadas por replantio.
Hoje, a comitiva chefiada por Mangabeira Unger tem encontro marcado com o governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), com secretários dos Estados e com a comunidade científica. A governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), também já se reuniu com o ministro. A expectativa é que o ministro da Cultura, Gilberto Gil, se junte a equipe ainda hoje. A ministra Marina Silva (Meio Ambiente) foi convidada, mas alegou motivos pessoais para não participar.
Mangabeira levou ontem para Santarém (PA) a discussão sobre o desenvolvimento sustentável da Amazônia, em uma reunião com entidades locais. Para a prefeita de Santarém, Maria do Carmo Lima (PT), "antes é necessário que se cuide bem da água da Amazônia para o povo amazônico". "Vivemos às margens dos maiores rios do mundo e não temos água encanada dentro de casa."
(Maria Clara Cabral e Sílvia Freire,
Folha de São Paulo, 17/09/2008)