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biocombustíveis
2008-01-17
Apesar da preocupação mundial com o aquecimento e com o impacto da produção de biocombustíveis sobre o preço dos alimentos, os governos pouco fazem para incentivar o comércio internacional de combustíveis mais baratos e ambientalmente corretos, segundo especialistas. As tarifas e barreiras comerciais impedem, por exemplo, que o Brasil, líder em competitividade no setor de biocombustíveis, exporte mais etanol de cana. Os embarques na verdade devem cair neste ano em relação a 2007.

Na Europa, os produtores de biodiesel foram afetados por um aumento nas importações dos EUA, cujos fabricantes se beneficiam de subsídios pela mistura do produto com o diesel mineral. Para contra-atacar e proteger os seus produtores do biocombustível, a UE pode impor taxas compensatórias, segundo fontes do setor.

A UE também se vê afetada por enormes quantidades de biodiesel argentino barato, com estímulo de taxas preferenciais. O governo da Argentina taxa o produto em apenas 5 por cento, enquanto a exportação do óleo comestível é taxada em 30 por cento. "Alguns países estão tentando resolver um problema mundial, que é o aquecimento global e a mudança climática, apenas com soluções nacionais", disse Marcos Jank, diretor da Unica (entidade brasileira dos produtores de cana), durante o Summit Global da Reuters de Agricultura e Biocombustíveis.

Segundo a Unica, o etanol de cana é mais competitivo do que o produzido com outros produtos agrícolas. Cada hectare de cana rende sete litros de etanol, bem acima dos três litros por hectare de milho. Além disso, os custos de produção são menores, e a eficiência energética -  quantidade de energia usada na produção versus a energia resultante - é cinco vezes maior do que no álcool de milho, segundo a Unica.

Além disso, seu impacto sobre os preços alimentícios é mais limitado do que no caso do milho e do trigo. Quase um terço da próxima safra norte-americana de milho pode ser transformada em combustível, o que pressiona a inflação dos alimentos. Mas as tarifas em alguns dos maiores mercados mundiais de combustíveis, como EUA e Europa, vão limitar as exportações de etanol do Brasil. A consultoria Datagro prevê uma queda de 3,8 bilhões de litros em 2007 para 3,4 bilhões de litros neste ano.

Perspectivas sombrias - A Unica diz que seus argumentos não são auto-promocionais, já que Ásia, África e o resto da América do Sul, por exemplo, também poderiam produzir álcool combustível de cana. Mais de cem países - a maioria pobres - têm condições de cultivar a cana-de-açúcar.

"A Europa está tentando subsidiar seus agricultores para produzir etanol de beterraba e trigo ao invés de comprar etanol do exterior. O mesmo acontece nos EUA. A maior parte do etanol de lá é de milho, provavelmente de biomassa no futuro, mas não importado", disse Jank. "Acreditamos que, se esses países considerarem importar mais de países em desenvolvimento, o equilíbrio energético e ambiental será muito melhor, e os custos serão muito mais baixos", disse ele.

Mas os sinais desses países apontam numa direção contrária. O presidente do Comitê de Agricultura dos EUA, deputado Collin Peterson, disse na terça-feira (15) que os créditos fiscais e as tarifas sobre o etanol teriam de ser mantidas para que haja condições para o desenvolvimento do etanol de celulose.

"Esperamos que não tenhamos mudanças no imposto ou nas tarifas no curto prazo" afirmou. O álcool brasileiro é taxado em 54 centavos de dólar por galão no mercado norte-americano. Assim, a exportação direta só é vantajosa em ocasiões raras e específicas, quando há preços excepcionalmente baixos no Brasil e altos nos EUA.

E as perspectiva continuam negativas, pois em dezembro os EUA aprovaram uma Lei de Energia que estabelece como meta o uso de 36 bilhões de galões de biocombustíveis - em princípio, sem recorrer a importações. "Eles não vão abrir seus mercados. Vão manter sua tarifa de importação e criar uma cota, e então vão administrar esta cota por critérios geopolíticos", previu Plínio Nastari, presidente da consultoria brasileira Datagro.

Wallace Tyner, professor da Universidade Purdue, de Indiana (EUA), disse que a meta prevista em lei só pode ser atingida com mudanças de tarifas. "O Brasil e muitos países centro-americanos têm capacidade para ampliar rapidamente sua produção de etanol, caso (os EUA) sinalizem que há mercado para isso", disse Tyner.

(Estadão Online, Ambiente Brasil, 17/01/2008)


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