Lisboa - Apesar de não ocorrer todos os anos, a inundação em Moçambique "é uma situação normal", afirma Alfredo Rocha, especialista em meteorologia da Universidade de Aveiro, autor de várias pesquisas sobre o clima da África Austral. O pesquisador português ponderou à Agência Lusa que, no passado, ocorreram "cheias idênticas ou mais intensas" do que as registradas atualmente no país.
As cheias ocorrem em Moçambique de forma cíclica, situação que acontece na época das chuvas, com pico em janeiro e fevereiro. As inundações de 2000 foram as mais graves da história do país, tendo registrado 640 mortos. Estas fortes chuvas acontecem porque Moçambique está localizado na zona tropical, "onde, de uma forma geral, a precipitação é muito elevada", explica o especialista em meteorologia.
No entanto, as cheias não "acontecem exclusivamente devido à chuva que se verifica em Moçambique", mas, sobretudo, por causa da precipitação que está caindo nos países vizinhos e que alimenta os rios moçambicanos, adianta Alfredo Rocha. As cheias deste ano, que já provocaram sete mortos e 53.982 desalojados, afetam principalmente a bacia do rio Zambeze, que nasce na Zâmbia e é um dos mais importantes da África.
Também Belarmino Chivambo, técnico da Direção Nacional de Águas de Moçambique, apontou como explicação para as cheias cíclicas o fato de o país se localizar em uma zona de convergência intertropical e se situar a jusante dos rios que nascem nos países vizinhos. "Se olharmos para o mapa de Moçambique, as fronteiras estão quase todas onde terminam as regiões montanhosas, com exceção do centro. Portanto, o país está em uma zona baixa, em relação ao nível médio das águas do mar, e muito baixa, se comparado a outros da África Austral", disse Chivambo.
O técnico sublinhou ainda que as bacias hidrográficas moçambicanas, como a do rio Save, passam por um estreitamento no território. "Nós estamos em uma área em que todas as bacias confluem no território moçambicano e há congestionamento", explicou. Além dos fenômenos naturais, as cheias são resultado também da insuficiente capacidade de armazenamento das barragens do país.
Moçambique possui atualmente cinco barragens com capacidade para atenuar os efeitos das cheias: a hidroelétrica de Cahora Bassa (Tete), Chicamba (Manica), Pequenos Limbobos (Maputo), Massingir (Gaza) e Currumana (Maputo). No entanto, segundo o técnico da Direção Nacional de Águas, elas "não são suficientes" e, para aliviar a situação das cheias, "é preciso construir diques, ter um sistema de informação efetivo e fazer a delimitação das zonas de inundação, para evitar que sejam ocupadas pela população".
Chivambo afirma que Moçambique não tem condições de sustentabilidade para a construção de barragens, acrescentando que, atualmente, mantém "medidas não-estruturais" e depende "da cooperação com a África do Sul".
(
Envolverde/Agência Lusa, 16/01/2008)