O desmatamento pode estar aumentando na Amazônia por incentivos ao crescimento da pecuária na região dados por bancos estatais nacionais, como o Banco da Amazônia (Basa), e estatais internacionais, como é o caso do Banco Mundial (Bird). Isso é o que mostra duas importantes matérias publicadas pelo jornal O Estado de São Paulo e pela Agência Estado.
Sob o título "Com estímulo oficial, floresta vira capim", a primeira matéria, publicada no domingo, 13/01, no Estadão, assinala que portes distintos de pecuaristas do Pará, indo dos micros aos grandes, receberam no ano passado R$ 80 milhões do Pronaf (Programa Nacional de Agricultura Familiar) e do FNO (Fundo Constitucional do Norte) para expandirem suas atividades, que implicaram no aumento do desmatamento.
A matéria assinala que o Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) estima que, de 2003 a 2007, os pecuaristas da região Norte teriam sido beneficiados com R$ 1,89 bilhão só do FNO. A matéria informa, ainda, que uma norma interna do Basa manda dispensar comprovação de reserva legal de florestas na contratação dos empréstimos. Para financiar a pecuária e estimular a derrubada da floresta, os recursos do Basa ainda são com juros subsidiados - entre 0,5% e 10,5% -, considerados os mais baratos do país.
Ao ser indagado pela reportagem do jornal paulista se o Basa fiscaliza o desmatamento em propriedades financiadas, o gerente do banco em São Félix do Xingu (PA), João Batista Gonçalves, respondeu que tal função é de responsabilidade do Ibama. "Não temos como fiscalizar, não somos fiscais do Ibama. Se (o cliente) desmatou mais do que podia, o governo que puna", disse.
Veiculada na segunda-feira na Agência Estado, a segunda matéria trata de um relatório divulgado pela ONG Amigos da Terra - Amazônia Brasileira em que o Banco Mundial (Bird), que pega dinheiro de vários países ricos para ajudar no desenvolvimento sustentável principalmente das nações mais pobres, é acusado de estar colaborando com o desmatamento da Amazônia ao financiar projetos de pecuária na região sem analisar com cuidado os efeitos que eles podem ter.
A matéria da agência também assinala que a Amazônia Legal passou, em 2007, da marca histórica de 10 milhões de abates bovinos, com um aumento de 46% em relação a 2004. Esse avanço da atividade na Amazônia ajudou a consolidar o Brasil como o maior exportador e o segundo maior produtor mundial de carne bovina.
Pelas duas matérias veiculadas no Grupo Estadão, a Amazônia pode ter ganhado ganhou, de fato, mais dois aliados ligados a governos para ser destruída, aumentando, com isso, a participação do Brasil no aquecimento global, que é provocado no país em mais de 70% justamente pelos desmates ocorridos principalmente na floresta amazônica.
No início da década de 70, o Banco Mundial também foi acusado de estar financiando estradas na Amazônia que contribuía diretamente para o aumento do desmatamento na região. O mesmo fez o Basa ao financiar o avanço da pecuária no Acre e em outros estados amazônicos.
As duas instituições financeiras, assim como o governo federal, precisam se pronunciar sobre o conteúdo das duas matérias sob pena do país ser acusado lá fora de estar tendo posição dúbia com relação à maior floresta tropical do mundo, combatendo seu desmatamento por um lado, enquanto o estimula através de instituições financeiras ligadas ao Estado.
(Kaxiana /
Amazonia.org, 15/01/2008)