Com apoio do 'Estado', evento reúne especialistas em Washington para discutir metas socioambientais
Desenvolvimento econômico e conservação ambiental podem caminhar de mãos dadas, desde que o primeiro seja planejado e executado com o segundo em mente desde o início - o que não ocorre na maior parte das políticas públicas para a Amazônia. Esse é o pensamento que deverá nortear um debate hoje no Wilson Center, em Washington, com a participação de especialistas brasileiros e estrangeiros. As discussões serão focadas em um relatório da organização Conservação Internacional (CI), que analisa os potenciais impactos da Iniciativa pela Integração da Infra-Estrutura Regional Sul-Americana (IIRSA) sobre a região amazônica.
O estudo reconhece a importância do projeto - uma parceria dos países da América do Sul para ampliação e integração dos sistemas regionais de transporte, energia e comunicação -, mas alerta sobre a falta de planejamento socioambiental para sua execução. "É perfeitamente legítimo que os países queiram promover a integração regional e o desenvolvimento econômico. Nossa preocupação é que não está sendo dada a devida atenção aos impactos ambientais e sociais desse desenvolvimento", disse ao Estado o biólogo Tim Killeen, do Centro de Ciências Aplicada à Biodiversidade da CI, autor do estudo.
A IIRSA, segundo Killeen, incorpora em larga escala os desafios de conciliar desenvolvimento e conservação, enfrentados diariamente pelos governantes e habitantes da Amazônia.
A iniciativa, segundo o relatório, tem 335 projetos na agenda, com 31 prioritários, previstos para conclusão até 2010, no valor de US$ 6,4 bilhões. Os planos incluem a construção de rodovias, hidrovia e ferrovias para interligar toda a região, além de oleodutos, gasodutos e linhas de energia. Tudo isso dentro da região com a maior concentração de biodiversidade do planeta: Amazônia, cerrado e Andes Tropicais.
"Embora as instituições financeiras responsáveis pelo IIRSA tenham padrões relativamente altos de avaliação de caráter ambiental e social, os estudos ambientais estão ligados a projetos individuais e não levam em consideração o impacto coletivo dessa multiplicidade de investimentos", afirma o relatório. O programa é financiado principalmente pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Corporação Andina de Fomento (CAF) e o Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata.
O "desenvolvimento sustentável" é possível, segundo Killeen, mas carece de soluções inovadoras para se tornar realidade. Uma delas seria a valorização dos serviços ambientais prestados pela floresta, como produção de chuva e absorção de carbono. Pelo valor de mercado atual (US$10/tonelada), só o estoque de carbono da Amazônia (279 bilhões de toneladas) representaria um ativo de US$ 2,8 trilhões, segundo o relatório. Se a manutenção desse estoque fosse adequadamente remunerada, afirma Killeen, isso poderia ser uma fonte importante de recursos para conservação.
"O desmatamento ocorre porque é uma das únicas atividades que gera emprego e renda na floresta", diz o cientista, que vive na Bolívia. "Se quisermos acabar com isso, precisamos ‘subornar’ as pessoas com outras alternativas para sobreviver."
"A qualidade de vida para as pessoas na Amazônia é crucial para a conservação", reforça o biólogo Thomas Lovejoy, presidente do Heinz Center e um dos maiores especialistas do mundo em conservação, que fará a palestra de abertura do evento. "Conservar não significa não usar a floresta; significa usá-la sem destruí-la."
O evento, que começa às 15 horas (horário de Brasília) será transmitido ao vivo pela internet nos sites do Wilson Center (www.wilsoncenter.org) e do Grupo Estado (www.estadao.com.br/amazonia/). A programação e o estudo também estão disponíveis na página do instituto. O diretor de Conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, será moderador de uma das mesas.
Imagens
O debate será seguido da inauguração de uma exposição com 50 fotografias da Amazônia, feitas pelos fotógrafos do Estado para o projeto da revista Grandes Reportagens - Amazônia, veiculada na edição de 25 de novembro de 2007. "São imagens poderosas, que mostram não só as paisagens belíssimas e a biodiversidade da floresta, mas a realidade das pessoas que vivem dentro dela", diz o diretor de Projetos Especiais para a galeria do Wilson Center, Alex Parlini.
A exposição durará dois meses e percorrerá outras instituições e universidades nos Estados Unidos. "A maioria dos americanos não tem a mínima idéia do que é a Amazônia", diz Parlini. Ele espera que as imagens ajudarão a mudar esse cenário.
(Agência Estado, 16/01/2008)