O setor agrícola brasileiro somente agora está se dando conta da necessidade de proteger a Amazônia, mas ainda pode levar muitos anos até que o desmatamento seja contido, disse o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes.
O agribusiness do Brasil, um dos principais fornecedores de alimentos do mundo, é constantemente responsabilizado pelo desmatamento da floresta.
Autoridades governamentais, muitos traders de produtos agrícolas e alguns produtores estão começando a aceitar a necessidade de conservar a maior floresta tropical do mundo, mas as políticas e os recursos para esse fim ainda são inadequados, disse o ministro à Reuters.
"Hoje, o Brasil tem consciência de não derrubar árvores para aumentar a produção", disse ele na entrevista, realizada na segunda-feira. "O governo decidiu - sem desmatamento. Agora, levará pelo menos uma década para que as políticas sejam colocadas em vigor e funcionem."
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dito repetidas vezes que o Brasil reduziu o desmatamento pela metade nos últimos dois anos. Mas os preços recordes das commodities estão aumentando a pressão pelo plantio em terras amazônicas, e as derrubadas de árvores aumentaram novamente desde o último mês de agosto, segundo o Ministério do Meio Ambiente.
Stephanes disse que a agricultura brasileira crescerá recuperando 50 milhões de hectares de pastos degradados, assim como com o desenvolvimento de 50 milhões de hectares de cerrado virgem.
"O que nós já cortamos é o suficiente", disse ele.
Mas ele afirmou que não há fundos ou políticas concretas para incentivar os fazendeiros do país a não cortar mais árvores.
"Nós não começamos ainda, isso ainda não é necessário", afirmou Stephanes. "Essa discussão é nova, pelo menos neste ministério, e ainda precisa amadurecer para que nós possamos criar novas linhas de financiamento."
Ele afirmou que apóia totalmente a decisão do governo, tomada em dezembro, de banir produtos provenientes de regiões ilegalmente desmatadas. Mas a implementação dessa política não é uma tarefa sua, disse.
"Se ainda há pessoas desmatando, isso é um caso para a polícia", afirmou.
(Raymond Colitt, O Globo, 16/01/2008)