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amazônia
2008-01-16

Ministro da Agricultura admite que governo trata do problema apenas "em tese"

Estudo revelado pela "Folha" domingo mostra que região foi grande responsável pelo aumento das exportações brasileiras de carne bovina

O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, admitiu ontem (15/01) que há derrubada de floresta amazônica para uso como pasto, reconheceu que o governo trata do tema somente "em tese", disse que está preocupado e torceu para que o rebanho que come a floresta não se destine ao aumento das exportações brasileiras. "Já tinha enviado uma equipe de técnicos do ministério para a região, tenho mais de 250 fotos que não vou divulgar.

O outro lado disso é que a abertura da região se deu há 30 anos. Ainda estão derrubando, mas é pouca coisa. A gente tenta segurar esse processo", afirmou o ministro. Stephanes só conheceu alguns detalhes do problema ao ler reportagem da Folha de domingo: terra barata e crédito de bancos oficiais estimulam o avanço cada vez maior da pecuária. Hoje a Amazônia Legal responde por 36% do rebanho nacional e um terço das exportações, segundo relatório compilado pela ONG Amigos da Terra - Amazônia Brasileira. Virtualmente todo o crescimento do rebanho nacional entre 2003 e 2006 aconteceu naquela região.

Questão de fé

"Como ministro da Agricultura, quero crer que não precisamos disso [ataque à floresta] para exportar carne." O Brasil é alvo constante de questionamentos de países desenvolvidos sobre as origens de seus produtos agrícolas, envolvimento de trabalho degradante e outros problemas. A temática ambiental também sempre surge nessas discussões.

Segundo Stephanes, o governo precisa passar à prática para impedir o avanço do pasto sobre a floresta. "Esta questão está colocada em tese, em nível de decisão política. O governo tomou a decisão política, algo que também é extremamente importante, que é a seguinte: não se derruba mais árvore para a expansão da agricultura e da pecuária brasileira", disse.

Entre as ações teóricas, inclui-se a preocupação do governo com o fenômeno da pecuária na Amazônia. "Estamos muito preocupados com aquilo que foi demonstrado na reportagem", afirmou Stephanes. O ministro abordou o assunto ontem, ao divulgar os dados da balança comercial do agronegócio brasileiro. O complexo de carnes foi destaque, com aumento de 12,8% nas vendas de carne bovina. Em 2007, o Brasil embarcou 1,62 milhão de toneladas de carne bovina em direção a 150 países, um número 6% superior ao ano anterior.

Em suas projeções, o Ministério da Agricultura espera um crescimento de 31,5% na produção bovina até 2017/2018. Segundo o ministro, há espaço para o aumento sem interferência em biomas protegidos, como a Amazônia e o Pantanal. O cerrado participa do cálculo como área para pastagem. Isso apesar de ser um bioma rico em biodiversidade e altamente ameaçado: estima-se que 40% dele já tenha sido alterado pela ação humana, e as pressões do agronegócio sobre a savana central brasileira só crescem.

"Estamos conscientes de que com a área que temos podemos ampliar a nossa produção agropecuária dentro das necessidades que teremos nos próximos dez anos sem precisar derrubar nenhuma árvore", disse. Entre as medidas citadas pelo ministro está o incentivo de áreas de pastagens degradadas.

O problema é justamente convencer pecuaristas a voltar a esses espaços, abandonados quando a quantidade de nutrientes no solo diminui consideravelmente. Para isso, seria preciso incentivos públicos financeiros para a compra de adubo e fertilizantes. "Temos de ter um uso mais intensivo, mais racional. Precisamos criar programas para uso de pastagem degradada, é uma proposta que precisa ser implementada", afirmou o ministro da Agricultura.

A recuperação de áreas degradadas era justamente uma das tarefas que cabiam àquela pasta dentro do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento, coordenado pela Casa Civil. A ação nunca chegou a ser implementada.

(Iuri Dantas, Folha de São Paulo, 16/01/2008)

 


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