O conhecimento sobre a flora paulista de criptofíceas – algas microscópicas que podem ser utilizadas como um indicador de qualidade da água – era reduzido até pouco tempo atrás. Para preencher essa lacuna, acaba de ser lançado o livro Flora Ficológica do Estado de São Paulo - Cryptophyceae, de Carlos Bicudo e Ana Alice Jarreta de Castro.
De acordo com Bicudo, a obra, que é resultado de um Projeto Temático da Fapesp, é o primeiro inventário completo dessa flora no Estado. O estudo que deu origem ao livro avaliou 340 amostras que permitiram a identificação de 36 espécies e 37 táxons, representando nove gêneros.
“O projeto permitiu um grande salto no conhecimento dessas algas. Das 36 espécies descritas, 17 foram citadas pela primeira vez com presença no Brasil. Duas outras eram desconhecidas da ciência até agora”, disse Bicudo à Agência Fapesp.
O principal objetivo do livro, de acordo com o autor, é divulgar a flora ficológica do estado. “O primeiro volume da série tratou das carofíceas, que são algas macroscópicas. O terceiro, cujo lançamento está previsto para março, tratará das desmidiáceas, que são seres unicelulares cilíndricos”, afirmou.
Segundo Bicudo, as criptofíceas, seres flagelados presentes em quase todas as amostras de material que se colete, em água doce ou marinha, fazem parte do fitoplâncton – o conjunto de organismos aquáticos microscópicos capazes de fazer fotossíntese e que representam um elemento fundamental da cadeia alimentar dos ecossistemas aquáticos.
“Essas algas não aparecem onde o meio ambiente está contaminado, por isso elas podem ser incluídas entre os indicadores ambientais de qualidade de água”, disse Bicudo.
De acordo com o biólogo, o inventário da flora ficológica feito pelo projeto não tem paralelo na América Latina. “Não há nenhum levantamento que compile todos os organismos numa área tão grande. Esperamos que o livro venha a ser base de muitos outros levantamentos”, disse.
Bicudo, que é pesquisador do Instituto Botânico de São Paulo, afirma que o conhecimento dessas floras é escasso em todas as áreas tropicais do planeta. “O mundo todo conhece o hemisfério Norte, mas as informações sobre as floras da África, América Central e boa parte da América do Sul são muito pobres”, disse.
De acordo com o cientista, o livro traz um capítulo sobre taxonomia numérica, usada como instrumento para determinar o valor taxonômico das características empregadas para separação de espécies e categorias infra-específicas em cada gênero estudado e a afinidade entre as espécies identificadas.
“A taxonomia que fazemos é morfológica. Olhamos o organismo e interpretamos. Mas sempre há uma tendência a dar mais peso às características que nos atraem. Por isso usamos números para diferentes características e aplicamos uma análise computacional, mais objetiva. A análise numérica comprovou muito bem as identificações que fizemos por observação”, disse.
O livro inclui ainda 160 ilustrações. “Trabalhamos com desenhos para dar uma perspectiva tridimensional dos organismos, já que a foto a partir do microscópio mostra apenas um corte plano da alga”, explicou.
Resumo
Flora Ficológica do Estado de São Paulo - Cryptophyceae
Autores: Carlos Bicudo e Ana Alice Jarreta de Castro
Lançamento: 2007
Preço: R$ 28 (preço de lançamento)
Mais informações: www.rimaeditora.com.br
(Por Fábio de Castro, Agência Fapesp, 15/01/2008)