O sargento da Polícia Militar (PM) Paulo Cesar Dias levou três flechadas de índios na manhã de sábado (12/01), próximo ao lago Caracaranã, Município de Normandia, cerca de 140 quilômetros da Capital Boa Vista. Os atacantes são indígenas ligados ao Conselho Indígena de Roraima (CIR) e a confusão começou quando eles bloquearam a BR-433 e atacaram turistas que foram visitar o lago, um dos principais pontos turísticos de Roraima. Segundo ocorrência registrada no 1º Distrito Policial pelo policial civil Carlos Alberto Oliveira Dias, 49 anos, irmão da vitima, eles estavam chegando ao lago quando foram surpreendidos pela barricada feita pelos índios na estrada que sai da rodovia federal e dá acesso ao lago.
"Nós vimos uma senhora com um carro cheio de crianças pedindo socorro. Ela nos contou que seu marido estava em poder dos índios do CIR, em um veículo L-200. Nós conduzimos o carro dela até o lago e encontramos eles no caminho. Quando nos viram, foram logo atirando flechas. Uma delas atravessou a cabine do carro. A outra ia pegar na moça, mas meu irmão se colocou na frente e a protegeu, sendo atingido", contou na ocorrência. Segundo ele, Paulo Cesar levou três flechadas no ombro direito.
A versão dos policiais foi confirmada pelo grupo de turistas que veio de Belém (Pará), apenas conhecer Roraima. A estudante Regina Oliveira, 20 anos, contou que estava com a família e amigos em dois veículos e que viera conhecer o lago. "O carro com meu cunhado passou direto, mas eles conseguiram nos parar na estrada. Estavam em duas L-200 e mandaram meu marido descer do carro", relatou.
Conforme a estudante, os indígenas estavam armados com facões e arcos e flechas. "Meu marido foi com eles e esses militares chegaram e nos viram no carro, somente mulheres e crianças, então resolveram nos ajudar", disse. A turista contou que assim que perceberam a presença do veículo, os índios dispararam várias flechas contra eles. "Uma delas atravessou a cabine e passou zunindo pela minha frente. A outra ia acertar em mim, mas o policial ficou na frente", contou.
A paraense Walkiria Neves disse que na confusão chegou a se atracar com um dos índios para evitar que ele pegasse a arma de fogo do policial. "Nós tínhamos crianças dentro do carro e ele apontava a flecha para elas. Quando eu vi que ia pegar a arma, resolvi brigar com ele para proteger meu filho. Na hora é desesperador. Meu filho de 4 anos disse que parecia o filme Tropa de Elite", narrou.
O carro do ex-deputado estadual Berinho Bantim foi atingido por flechas, mas ninguém ficou ferido. O ex-deputado disse que os veículos que os índios conduziam eram caminhonetes L-200. "Eles passaram a manhã bloqueando a estrada. As famílias que estavam no lago, inclusive inúmeras crianças e idosos, viveram momentos de tensão e ficaram apavoradas com o tratamento ríspido e agressivo dos índios, que estavam em visível estado de embriaguez", afirmou.
PF prende índio por porte ilegal de armas e detém restante do grupo
Logo após o início do conflito no Município de Normandia, foram deslocados ao local policiais civis e militares, bombeiros, militares do Exército, policiais rodoviários federais e cinco equipes de policiais federais para evitar que inocentes fossem feridos. O grupo de índios foi trazido para a Superintendência da Polícia Federal, em Boa Vista, e um deles foi preso em flagrante por porte ilegal de arma.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), a confusão começou no entroncamento das rodovias 433 e 401. "Eles bloquearam a rodovia com pedras e troncos. Mas aqui é rodovia federal e o acesso é livre. Nós já desbloqueamos a estrada e vamos manter o acesso para a comunidade", explicou o inspetor Tarcisio Melo, no sábado à tarde, à reportagem da Folha.
Os policiais federais, quando chegaram ao local, ouviram testemunhas, os turistas e os índios envolvidos no conflito. Após uma revista nos veículos do Conselho Indígena de Roraima (CIR), usados na ação, os agentes encontraram balas e armas de fogo. Todos foram trazidos para a sede da Superintendência da Polícia Federal e o agente do Conselho Indígena de Roraima, Jessimar Morais, foi preso em flagrante por porte ilegal de arma e encaminhado para a Penitenciária Agrícola de Monte Cristo. Ele tinha munição escondida dentro da cueca.
As vítimas das agressões foram notificadas pelos agentes e devem comparecer à Polícia Federal ainda hoje, para prestar depoimento. Após a ação da Federal, o clima de paz e tranqüilidade voltou a se instalar no lago e as famílias preferiram permanecer no local e aproveitar o fim de semana.
O vereador Eduardo Oliveira, do Município de Normandia, que estava no lago Caracaranã, a 140 km de Boa Vista, disse que após a chegada de policiais civis e militares as famílias estão mais calmas e a situação ficou sob controle.
O lago Caracaranã foi incluído nos 1,7 milhão de hectares da terra indígena Raposa Serra do Sol, mas a posse centenária que pertence a Joaquim Correia é motivo de ação judicial e ainda não foi transferida para os indígenas.
Índigenas alegam que faziam conscientização ambiental
Os oito índios envolvidos no bloqueio da rodovia afirmaram que fecharam a estrada apenas para fazer conscientização ambiental dos turistas. Eles disseram que as pessoas que vão ao lago deixam sujeira no local e não são bem-vindas na região.
"Eles passam e jogam poeira nas malocas, nos xingam de vagabundos e deixam latas de cerveja na estrada. Estávamos apenas protegendo o meio ambiente", disse Jessimar Morais, do Conselho Indígena de Roraima (CIR), responsável pela proteção das áreas indígenas e acusado de disparar a flecha que atingiu o militar.
Os índios justificam que estão tendo seus direitos "aviltados" e agem assim para defender as terras que lhes pertencem. "Nós estamos em nossa casa. Aqui é área indígena homologada e não autorizamos ninguém passar. Vamos fechar a estrada porque eles vêm em alta velocidade e não respeitam as comunidades. Se continuar o abuso nós vamos fechar a estrada", declarou Morais, antes de ser preso pela Polícia Federal, acusado de porte ilegal de arma.
(Por Cyneida Correa,
Folha de Boa Vista, 14/01/2008)