Para tentar aprimorar programas voltados às tribos indígenas, o governo precisa conhecê-las melhor. Partindo dessa premissa, a Funasa (Fundação Nacional de Saúde) pretende organizar neste ano o Inquérito Nacional de Nutrição e Saúde da População Indígena, para mapear a situação alimentar e nutricional desses povos. O estudo pretende ser o mais amplo sobre as condições de saúde e nutrição dos indígenas já realizado no país. A partir de seus resultados devem sair ações visando a melhoria dos indicadores sociais.
A pesquisa será feita em parceria com a Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva e financiada com R$ 3 milhões do Banco Mundial, por meio do Vigisus II (projeto de fortalecimento das ações em saúde indígena e saneamento, feito com a cooperação técnica do PNUD).
A idéia é focar o levantamento em crianças menores de cinco anos e mulheres em idade fértil (de 14 a 49 anos). "Esse universo foi escolhido por envolver os dois segmentos mais vulneráveis a alterações na qualidade de vida. Como não teríamos recursos para alcançar toda a população, este corte nos pareceu o mais preciso", afirma a nutricionista Roselynd Moreira, do Departamento de Saúde Indígena da Funasa. Deve ser entrevistada uma amostra de 4.856 crianças e 4.856 mulheres nas 34 regiões sanitárias indígenas brasileiras.
O trabalho de campo deve começar entre julho e agosto de 2008 e promete ser complicado. As áreas a serem mapeadas incluem todas as regiões do Brasil, e algumas são de difícil acesso, principalmente quando se trata da Amazônia. A organização afirma que, em algumas partes, as equipe do levantamento terão de viajar dias de barco para chegar aos índios.
A iniciativa se juntará ao Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional, que começou a ser implantado em terras indígenas em 2005. O sistema tem o objetivo de coletar a analisar dados semelhantes aos do inquérito, porém não chega ao mesmo detalhamento."As novas ações deverão chegar às populações mais isoladas O inquérito servirá de base para a tomada de decisões", afirma o presidente da Funasa, Danilo Forte.
Indicadores já mapeados apontam que a saúde dos 512 mil indígenas do país tem ainda muito a melhorar. Um exemplo é a mortalidade infantil. Enquanto no Brasil em geral a taxa é de 22,58 mortes a cada mil nascidos vivos (segundo dados de 2004 do Ministério da Saúde), entre os índios é mais que o dobro: 49,2, segundo levantamento de 2006 da Funasa. A taxa chega a 169,5 mortes por mil na região do Vale do Javari (AM), onde há grande incidência de hepatite e malária. "Os indicadores indígenas relativos à saúde em geral são piores que os do restante dos brasileiros, precisam de atenção especial", afirma Roselynd.
O inquérito permitirá que ações pontuais sejam programadas. Para isso, serão levantados em todas as populações indígenas indicadores como estado nutricional, prevalência de malária e tuberculose, anemia, acesso a serviços de saúde, acesso a programas de benefício social e nível de glicemia, entre outros. Os resultados devem sair no final de 2009.
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A Tribuna, 12/01/2008)