O Brasil tem condições de "poupar" o equivalente à produção de uma usina como a de Itaipu se lançar um programa agressivo de racionalização do uso de energia. A iniciativa seria capaz de gerar uma economia de 10% a 15% do consumo no intervalo de um ano -o que equivale de 5.500 MW a 8.300 MW. Esse é o diagnóstico de especialistas ouvidos pela Folha.
Para o físico Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe, a melhor saída para evitar um racionamento -e suas conseqüências traumáticas para a economia- é lançar mão de um plano de racionalização, com o financiamento oficial para a troca de equipamentos obsoletos por outros mais eficientes.
A Folha revelou no domingo alerta feito por Pinguelli, em carta ao presidente Lula e ao Ministério de Minas e Energia, sobre o risco de racionamento. O ex-presidente da Eletrobrás sugeriu a adoção de medidas imediatas de racionalização.
Ontem, Pinguelli disse que é possível, em tese, economizar até 30% da energia gerada. Ele acredita, porém, que não seja viável num curto espaço de tempo adotar medidas que assegurem esse nível de redução do consumo. "É uma meta muito ousada."
É factível, entretanto, diminuir em 10% ou 15% a demanda com ações como a troca das lâmpadas incandescentes por fluorescentes ou ajustar equipamentos industriais -feitos, em geral, já prevendo potência sempre 10% maior do que a necessidade real das unidades.
Segundo Pinguelli, o governo precisa adotar, a exemplo do que a estatal EDP (Energias de Portugal) fez em Portugal, um plano de substituição em massa de lâmpadas, que alcance especialmente famílias de baixa renda. Os consumidores mais pobres, diz, têm dificuldades por causa do preço maior dos equipamentos mais eficientes.
Deve haver ainda, avalia, estímulo para a criação de empresas que façam conversão de energia na indústria. "A primeira medida é reativar o Procel [programa de conservação de energia da estatal Eletrobrás], que já foi mais atuante."
Menos otimista, Adilson Oliveira, especialista do Instituto de Economia da UFRJ, diz que apenas medidas de racionalização não são suficientes, embora tenham a sua importância.
"É preciso de um plano de contingência para o uso do gás [com o objetivo de assegurar a demanda das térmicas]. O governo precisa tomar medidas imediatas. Não é o momento apenas para racionalização.O problema é de curto prazo", adverte.
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Folha de São Paulo, 15/01/2008)