Moradora do interior de Centenário percorre 1 km por dia, há 14 anos, carregando água em baldes
A agricultora Célia Skovronski, de 47 anos, tem uma rotina difícil, e que fica ainda pior nos meses de calor intenso. Ela percorre diariamente cerca de 1 quilômetro, realizando três a quatro viagens a pé em terreno íngreme, em busca de água para o consumo da família. A peregrinação deve-se à falta de rede na Linha Carlos Serafini, a 3,5 quilômetros da cidade de Centenário, no Alto Uruguai, onde Célia mora há 14 anos com o companheiro e mais três familiares. Doentes, os quatro não podem ajudar na tarefa. A estiagem na região ameaça o poço onde Célia busca água, a 250 metros de casa. 'Mais 15 dias sem chuvas e vamos ter de pegar com uma canequinha', prevê. A mesma fonte abastece os pais da agricultora, que moram 500 metros adiante. Outro poço próximo, usado para atividades domésticas e o consumo das 40 cabeças de gado de corte já secou.
Ontem, como vem ocorrendo desde a semana passada, mais uma carga de 8 mil litros de água, levada pelo caminhão-pipa da prefeitura, chegou à propriedade de Célia. Ela estima em 60% as perdas na lavoura de feijão e 20% na de milho em conseqüência da falta de chuvas mais fortes. O secretário municipal de Agricultura, Jenoir Florek, disse que estão sendo transportados 30 mil litros de água por semana para 20 famílias que residem nas linhas Carlos Serafini e Lajeado André. Desde ontem, a prefeitura leva mais 10 mil litros do produto a oito famílias da Linha Barão do Rio Branco. Segundo o secretário, em Lajeado Mambira, o problema não é a escassez de água para consumo de pessoas e animais, mas a falta de umidade nas lavouras. Numa única propriedade, a 8 quilômetros da área urbana a quebra nos 2 hectares de feijão chega a 90%. 'Lá tem água no poço, mas falta na roça', afirmou Florek.
Na região do Alto Uruguai, além de Centenário, as prefeituras de Viadutos e Marcelino Ramos estão socorrendo as comunidades da área rural com transporte de água em caminhões-pipa. Na região Nordeste, o problema atinge Paim Filho.
(Por José Ody, Correio do Povo, 15/01/2008)