Assim como a tecnologia nos surpreende todos os dias pelos permanentes avanços que se obtém nos terrenos da comunicação, da eletrônica ou da medicina, o que ocorre em matéria ambiental também está modificando a realidade, e assim, as regras do jogo. Se em geral não temos demonstrado maturidade para nos anteciparmos aos problemas, a crise atual precipita os acontecimentos e encurta os prazos.
Uma das grandes diferenças que está se operando e que começa a predominar é o convencimento de que a solução dos grandes problemas chegará de mãos dadas com a participação da sociedade, e não como resultado do bom funcionamento de alguns setores de forma isolada.
Esta participação é muito mais que a conhecida atuação das organizações não governamentais (ONGs). Trata-se de uma etapa superior porque implica avanços notórios no empoderamento, ou seja, um novo exercício de poder, baseado na tomada de consciência das pessoas do poder individual e coletivo que têm para gestionar e resolver seus problemas.
Ainda que, todavia, não se saiba muito bem como instrumentar mecanismos que conduzam a um empoderamento rápido e exitoso, de qualquer maneira
e como tem sucedido tantas vezes, estamos aprendendo na caminhada. As urgências ambientais (sociais, culturais, econômicas, políticas e ecológicas) obrigam a queimar etapas com rapidez.
O que se busca é transformar as relações dos grupos sociais com os setores de poder, em todos aqueles aspectos que afetam suas vidas. Para isso é óbvio que se precisa estar nos lugares onde se tomam as decisões importantes. É a única maneira de se conseguir uma mais justa distribuição do exercício do poder dentro da sociedade, cujo resultado final deveria ser uma melhor qualidade de vida para todos.
Conquistando um avanço significativo do empoderamento, a sociedade estaria no caminho correto para alcançar um desenvolvimento econômico, social, ecológico e institucional duradouro. Será o resultado do correto equilíbrio entre Estado, sociedade civil, o setor produtivo e o funcionamento econômico. A este tentador conceito se denomina governança.
Se pensamos no aquecimento global como um exemplo emblemático da grave crise ambiental atual, é evidente que sua presença encurta os prazos e reduz os níveis de paciência. É um fenômeno com uma característica única e para muitos inesperada: afetará a toda a humanidade. E ainda que aconteça de diferentes maneiras, em qualquer caso será o suficientemente grave para causar-nos um grande abalo.
A sociedade está consciente que deve participar da preparação das medidas de adaptação e mitigação das mudanças climáticas? Como e quando fará isso? A medida que nos inteiramos de nossas vulnerabilidades e da perspectiva do problema, urge responder a essas perguntas. Nestes dias a informação que a sociedade recebe sobre o futuro do aquecimento global parece abundante. Mas, sem dúvida, não é boa a qualidade, porque a mensagem geral que deixa é que o problema está ainda distante da nossa realidade pessoal e grupal. E não é assim. O que está ocorrendo alerta sobre o quanto somos vulneráveis e o quanto é vital reagirmos imediatamente.
(Por Hernán Sorhuet Gelós*,
EcoAgência, 11/01/2008)
*O autor é jornalista e escreve regularmente para o jornal El
País, do Uruguai, sobre meio ambiente. Tradução: Ulisses A. Nenê