Pesquisadores do Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Rio Claro, no interior paulista, estão realizando as primeiras análises científicas dos fósseis de samambaias coletados no município de Filadélfia, no Tocantins.
A equipe, coordenada pelos docentes Dimas Dias-Brito e Rosemarie Rohn Davies, coletou cerca de 750 quilos de material, composto principalmente por fragmentos de caules e folhas de espécies de samambaias dos gêneros Tieteas, Psaronius e Filicales, que atingiam até 15 metros de altura.
Os pesquisadores estudaram o estágio evolutivo dos vegetais a partir de análises palinológicas, estudo da estrutura de grãos de pólen fossilizados, e estimam que o material se originou há cerca de 290 milhões de anos. Pesquisadores da Universidade Federal do Tocantins e do Instituto Natureza do Tocantins, o órgão ambiental do governo daquele estado, também participam dos trabalhos.
As descobertas dos fósseis vegetais, que segundo os cientistas pertencem ao Período Permiano – entre 299 milhões e 250 milhões de anos atrás – ocorreram na Floresta Petrificada do Tocantins, área com aproximadamente 31 mil hectares.
Segundo Rosemarie, paleobotânica-chefe das expedições ao local das descobertas, o mais curioso é que os estudos da Unesp mostram que o material apresenta semelhanças com outros fósseis de samambaias também encontrados recentemente na cidade de Chemnitz, na Alemanha.
“A partir de indícios como a posição paleogeográfica da Floresta Petrificada do Tocantins, os fósseis de samambaias aparentemente têm uma maior relação com as amostras da Europa do que com materiais semelhantes encontrados em outras regiões do Brasil”, disse Rosemarie à Agência Fapesp.
“Isso pode estar relacionado ao fato de o norte da América do Sul já ter sido ligado à Europa e esses dois continentes terem estado em uma mesma região tropical. Temos que aprofundar os estudos para saber, por exemplo, o que teria sido responsável pelas diferenças entre as floras do Sul e do Norte do Brasil. Provavelmente isso se deve a questões de variações climáticas”, explica.
Rosemarie explica que, entre as plantas existentes atualmente, a mais parecida com os fósseis encontrados em Tocantins é o xaxim (Dicksonia sellowiana), que não ultrapassa três metros e é nativo da Mata Atlântica, especialmente dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Devido às semelhanças dos fósseis encontrados no Brasil e na Alemanha, a Unesp assinou um acordo de cooperação com o Museu da Natureza de Chemnitz para a realização de trabalhos conjuntos e intercâmbio de estudantes e docentes.
Três estudos de doutorado orientados por Rosemarie deverão ter início ainda este ano no IGCE para fazer, entre outras questões, a descrição das espécies de samambaias encontradas no Tocantins e analisar detalhes do processo de fossilização. “Já estamos enviando alunos para a Alemanha para aprofundar essas questões” afirma.
O estudo desses vegetais, diz a professora, também permitirá a investigação de temas como as características externas e internas dos fósseis e o ambiente no Período Permiano onde a vegetação original foi depositada.
(Por Thiago Romero, Agência Fapesp, 14/01/2008)