Os altos preços das commodities e os baixos preços de venda de biodiesel não vão comprometer a mistura obrigatória do biocombustível no diesel, que passou a vigorar no início do ano, afirmou uma autoridade nesta sexta-feira.
O superintendente de Abastecimento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Edson Silva, afirmou à Reuters que as entregas do combustível renovável estão garantidas, afastando assim algumas preocupações de analistas sofre escassez do biodiesel.
"O que vimos desde os primeiros dias da mistura e o que esperamos para o futuro está garantido, oferta confortável é esperada nas próximas semanas... Os mecanismos de controles institucionais nos permitem afirmar que não haverá falta", disse.
Cerca de 90 por cento do biodiesel é produzido a partir de soja no Brasil, o segundo produtor mundial da oleaginosa. Uma alta nos preços globais do grão, que atingiram novo recorde nesta sexta-feira, e a demanda dos produtores de biodiesel elevaram os valores do óleo de soja de maneira acentuada.
Como resultado, os custos de produção de biodiesel superaram a média de preços estabelecidos nos leilões do ano passado, para entregas em novembro, de 1,807 real por litro, levando alguns especialistas a duvidar da disponibilidade do produto.
"Está mais barato para os produtores não produzir biodiesel do que fazê-lo", afirmou Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE).
"Há multas se não entregarem, mas os produtores podem ir à Justiça argumentando condições econômicas desfavoráveis... e os preços têm que ser mais próximos da realidade no próximo leilão...", afirmou Pires.
A ANP deve realizar um novo leilão no primeiro semestre de 2008.
Os produtores que não entregarem as quantidades contratadas nos leilões são multados e ficam impedidos de participar de leilões futuros.
Apesar disso, Silva disse que os produtores de biodiesel nunca levantaram a questão do custo nas discussões com a agência.
"Sabemos que há uma defasagem de preço. Mas acreditamos que os preços da soja tendem a cair com o início da safra do centro-sul em fevereiro", ele disse.
"Os produtores estão interessados em ganhar um mercado que eles consideram ter extraordinário potencial, então eles podem trabalhar com lucratividade reduzida agora, por enquanto. Acreditamos que eles vão entregar tudo que foi contratado", afirmou.
Valter Egidio da Costa, presidente da companhia de biodiesel Soyminas afirmou que o preço de 1,8 real ainda dá viabilidade à produção.
"Não é um preço desejável, mas ele é viável. Eu não acho que haverá escassez de biodiesel. Há capacidade de produção e as companhias estão produzindo. Então os preços serão ajustados no próximo leilão", afirmou ele.
A capacidade de produção da Soyminas é de 1 milhão de litros de biodiesel por mês, mas a empresa planeja outras 25 unidades no Brasil para produzir o mesmo por dia.
A companhia não tem entregas obrigatórias contratadas pelos leilões, mas faz vendas esporádicas quando os preços estão bons.
"A demanda está aquecida, aqui e no exterior", afirmou.
O Brasil, que consome 400 bilhões de litros de diesel por ano, aposta no biocombustível para reduzir as suas necessidades de importação.
A mistura de biodiesel no diesel vai aumentar com o tempo, o que significa que o mercado crescerá.
A autoridade da ANP afirmou que não há planos de subsidiar os produtores ou deixar a estatal Petrobras, que planeja 13 unidades de biodiesel nos próximos anos, controlar o setor.
(Andrei Khali, O Estado de São Paulo, 11/01/2008)