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amazônia
2008-01-12

Sistema de modelagem computacional SimAmazônia, desenvolvido em programa do LBA, identifica áreas mais ameaçadas na região. Oito das 12 maiores bacias hidrográficas poderão perder mais da metade da cobertura florestal até 2050.

Agência FAPESP – A Amazônia poderia colocar em um futuro mercado de carbono, até 2050, devido ao desmatamento reduzido, cerca de 17 bilhões de toneladas de carbono que seriam emitidos para a atmosfera, caso persista um cenário de desmatamento pessimista.

Isso seria o equivalente a poupar quatro anos das emissões globais de poluição. As projeções são do SimAmazônia, programa de modelagem computacional desenvolvido para simular cenários na região.

Estimativas como essa, conseguidas a partir da utilização do software, estão subsidiando a formulação de novas políticas públicas para a região amazônica, com vistas à valoração dos serviços ambientais e, conseqüentemente, ao combate ao desmatamento e às emissões de carbono na atmosfera. Os resultados apontam caminhos para que o Brasil comece a vender carbono para países desenvolvidos dispostos a pagar pela não-emissão.

A partir do cálculo de milhões de dados, ambientais e econômicos, o SimAmazônia é capaz de criar modelos digitais, detalhados e complexos, para prever o comportamento ou a evolução ambiental de uma região específica. Parte das propostas desenvolvidas com base no software foi apresentada em dezembro na 13ª Conferência das Partes sobre o Clima (COP-13), na Indonésia.

“O mais interessante é que o programa passou a ser utilizado para subsidiar novas políticas públicas para a região”, disse Britaldo Silveira Soares Filho, um dos coordenadores do projeto de desenvolvimento do SimAmazônia, conduzido no âmbito do Programa Cenários, vinculado ao Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA).

O Projeto Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), apoiado pelo governo brasileiro e por instituições como Banco Mundial e WWF-Brasil, utiliza informações geradas pelo SimAmazônia para identificar as áreas mais ameaçadas pelo desmatamento na região. O objetivo é torná-las áreas de conservação permanente, uma das saídas consideradas mais eficientes para a preservação da floresta. Os cenários são criados a partir da inserção de dados político-econômicos, além de sociais.

“Com o software é possível identificar as áreas mais ameaçadas pelo desmatamento, ou de maior pressão, e utilizar essas informações para orientar investimentos futuros”, explica Soares, que também é professor da Universidade Federal de Minas Gerais.

Segundo o geólogo, as informações serão decisivas nos rumos do Arpa, que até 2013 pretende consolidar 50 milhões de hectares em unidades de conservação, com investimento de R$ 390 milhões. Só em 2006, o projeto beneficiou quatro unidades de conservação em Rondônia, que, juntas, receberam R$ 4,3 milhões. Nos próximos anos, o Arpa planeja investir na criação de 19,5 milhões de hectares de unidades de conservação de proteção integral.

O governo do Amazonas utilizou o SimAmazônia para subsidiar o documento que levou a Bali, intitulado Iniciativa Amazonas para as mudanças climáticas globais e desenvolvimento sustentável. O texto apresentou a estruturação de um mecanismo financeiro para a remuneração dos serviços ambientais prestados pelas florestas das unidades de conservação do Amazonas como estratégia de contenção do desmatamento e mitigação das mudanças climáticas.

Tanto o documento como os estudos da Arpa reforçaram a necessidade de estruturação de “mercados verdes”. “Os resultados dos trabalhos apontam para a necessidade de valoração dos serviços ambientais prestados pelas unidades de conservação”, enfatizou Soares.

Créditos de desmatamento

A criação de um mecanismo internacional de venda de créditos de carbono, pelo qual países desenvolvidos se disponham a pagar pela não-emissão, ainda parece ser a saída mais vantajosa para o Brasil.

“O país pode começar a vender créditos, tornando os serviços mais interessantes que o desmatamento. Estariam pagando para reduzir o desmatamento”, disse Soares, ressaltando que é importante manter o debate em torno da questão.

Em condições ideais, de acordo com dados do SimAmazônia, a região poderia vender cerca 17 bilhões de toneladas de carbono que potencialmente iriam para a atmosfera, até 2050. Seria como poupar quatro anos das emissões globais de poluição e ofereceria uma alternativa para a Amazônia chegar ao mesmo ano com 4,5 milhões de km² de floresta intacta.

Nesse cenário, o SimAmazônia destaca o desafio da mudança. Estimativas recentes apontam que 89% das áreas têm custo entre US$ 2 e US$ 3 por tonelada de carbono. “O baixo custo por hectare mostra como seria muito mais vantajoso preservar a floresta no lugar de transformá-la em pastagens de baixa rentabilidade”, disse Soares.

Tragédia anunciada

Para descrever cenários futuros na Amazônia, os responsáveis pelo SimAmazônia calcularam o efeito das políticas públicas – aplicação, ausência ou parcial implementação –, aliado a outros dados. Surgiram dois cenários principais: business-as-usual (“negócios de sempre”) e “governance” (“governança”).

O primeiro indicou que a maior floresta tropical do planeta pode ser reduzida, até 2050, a pouco mais da metade de sua área original, ou 53% da floresta. Isso, basicamente, pela expansão da agricultura e da pecuária por meio de queimadas, além da extração de madeira e da construção e pavimentação de estradas. Sobrariam 3,2 milhões dos 5,4 milhões de km² de floresta encontrados atualmente nos nove países amazônicos.

A destruição e a fragmentação das matas poriam em risco a existência de uma centena de espécies de mamíferos, cerca de um quarto das 382 espécies desse tipo de animais inclusas na simulação. Mais de 40% das áreas em que vivem desapareceriam, especialmente na Amazônia Oriental, a mais sujeita à abertura de estradas e ao desmatamento decorrente. Entre os primatas, pelo menos 35 espécies perderiam de 60% a 100% de seus hábitats.

O cenário mostrou ainda que oito das 12 maiores bacias hidrográficas poderiam perder mais da metade da cobertura florestal até 2050.

Já o “Governança” apontou caminhos que poderiam impedir até a metade da destruição promovida pela expansão da fronteira agrícola. A simulação projeta uma desaceleração do desmatamento ao longo do tempo devido à progressiva implantação de áreas protegidas. No máximo 50% das matas privadas seriam derrubadas se toda a floresta recebesse proteção governamental contra invasões e depredações.

O estudo aponta que incentivos fiscais e financeiros que estimulam proprietários a manter reservas florestais em áreas privadas são essenciais para chegar ao cenário “Governança”, além de investimentos para manter a incolumidade de áreas protegidas por lei.

O Programa Cenários reúne instituições brasileiras e estrangeiras coordenadas por Britaldo Silveira Soares Filho e por Daniel Nepstad do Instituto de Pesquisa Woods Hole (Estados Unidos), fundador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia e professor visitante da Universidade Federal do Pará.

O programa é financiado pelo LBA, pela Fundação Gordon e Betty Moore, e pelas agências norte-americanas Nasa, National Science Foundation (NSF). e United States Agency for International Development (Usaid).

A base de dados do SimAmazônia levou três anos para ser montada, com informações de fontes como o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e por mapas de aspectos físicos e viários, com as estradas vicinais da região.

(Por Michelle Portela, Envolverde, 11/01/2008)


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