Porto Alegre (RS) - A soja convencional deve ser mais rentável do que o grão transgênico em 2008. Com o aumento de preço do herbicida glifosato em 46,2%, a expectativa é de que os produtores de soja convencional obtenham lucros maiores pela primeira vez. No Mato Grosso, a saca do grão convencional deve render R$ 0,27 a mais para os produtores, segundo a Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
O glifosato é o principal herbicida utilizado na cultura da soja. O aumento de preço ocorreu devido a um crescimento das taxas de importação. A Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul para o glifosato importado é de 12%, mas o governo brasileiro aplicou este ano uma taxa extra de 35,8%.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja no Mato Grosso, Glauber Silveira, lembra que o glifosato é comercializado no Brasil quase que exclusivamente pela Monsanto. A empresa chega a vender o produto no país pelo dobro do que é cobrado na Argentina. De acordo com Silveira, esse monopólio tem sido desfavorável para os produtores de soja transgênica. “O transgênico é tão importante para o Brasil e tão importante para o produtor, em termos de produção. Só que em nível de custo, quando você tem o glifosato apenas na mão de praticamente uma empresa, que é a fornecedora da matéria-prima. Se torna inviável e muito perigoso para o produtor brasileiro ficar na mão de uma empresa”, diz.
O aumento dos preços afeta mais os produtores do grão transgênico. Isso porque as lavouras geneticamente modificadas precisam de duas aplicações, enquanto a soja convencional necessita apenas de uma. Para o economista Carlos Mielitz, esse aumento do custo de produção da soja transgênica já era esperado. Ele lembra que, antes do Brasil, esse aumento já ocorreu na Argentina e nos Estados Unidos, países onde o grão geneticamente modificado ingressou.
“Como quase todos os monopólios, eles passam a oferecer a tecnologia barato, para que o agricultor aderir. Depois que ele já aderiu e ficou dependente dessa tecnologia eles passam a cobrar os custos mais altos”, diz.
Além do aumento dos custos de produção, Mielitz afirma que a soja transgênica deixou de ser atrativa em função das exigências do mercado externo, que vem preferindo o grão convencional. Para ele, a tentativa de entrada de outros grãos transgênicos no país, como milho, vai trazer uma série de prejuízos para a economia. “A longo prazo, isso pode ser ruim para os agricultores brasileiros, porque vão acabar entrando em um mercado de preços menores, mas que poderá ser menos lucrativo e mais restritivo”, diz.
Ele também destaca que, com a substituição dos plantios de soja por milho para a produção de álcool nos Estados Unidos, a soja deve se valorizar cada vez mais, principalmente para o grão convencional.
(Por Patrícia Benvenuti,
Agencia Chasque, 10/01/2008)