Calor, praia, Carnaval - e dengue. A partir de agora, essas serão as idéias que brotarão na mente dos gaúchos quando se falar em verão. Para especialistas, a doença chegou ao Estado para ficar e dificilmente deixará de fazer muito mais vítimas em 2008 do que no ano passado. O risco de uma epidemia no verão é tido como alto. O professor de parasitologia da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS) Carlos Graeff Teixeira, afirma que o surpreendente é a dengue ter demorado tanto para chegar.
- Vamos ter dengue, sim. A gente olhava para o resto do país e do mundo e não entendia como o Rio Grande do Sul estava livre. Agora, o que se pode esperar é que a doença se alastre e aumente no Estado. Uma epidemia é provável. O trabalho da Secretaria Estadual da Saúde foi extraordinário, conseguiu conter muito a doença, mas é impossível fazer mais do que já se fez. Não tem como segurar. A biologia do mosquito é mais forte do que a nossa capacidade de combatê-lo - avisa.
O também doutor em doenças tropicais Rivaldo Venâncio da Cunha, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, não é mais otimista. Para ele, as condições para uma epidemia, que pode ser de grandes proporções, estão dadas: o Rio Grande soma mosquito transmissor, vírus circulando e uma população sem anticorpos. Ele cita o caso de sua cidade, Campo Grande, que tem metade do tamanho de Porto Alegre. Em 2007, o vírus da dengue de tipo 3 se alastrou pela primeira vez na capital sul-mato-grossense. Como a população não tinha imunidade contra ele, o número de casos chegou a 46 mil em poucas semanas.
- Os gaúchos não têm anticorpos para nenhum tipo de vírus da dengue. A probabilidade de uma epidemia se alastrar bastante é grande - alerta o professor.
O frio e os ovos - O especialista rechaça a idéia de que o inverno gaúcho, mais rigoroso do que o de outros Estado, tenha aniquilado a doença. O frio elimina mosquitos adultos e larvas, mas não os ovos, muitas vezes carregados de vírus. Basta a temperatura aumentar para ocorrer uma explosão na população do Aedes. Cunha aconselha que, como preparação para a epidemia, invista-se pesado em diagnóstico e tratamento. A possibilidade da chegada da doença precisa ser reconhecida, e os serviços de saúde, preparados.
(O Pioneiro, 11/01/2008)