O acionamento de termelétricas para reduzir o risco de racionamento de energia poderá comprometer o abastecimento de gás natural no país. A avaliação é do professor Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Para o especialista, de certa forma, pode se observar a escassez de gás para acionar as usinas térmicas “Se todas as termelétricas forem colocadas para funcionar, não haverá gás para o consumo industrial porque hoje a capacidade instalada no Brasil é muito maior do que a capacidade de produção e de importação de gás natural”, explica.

Somente os 4 mil megawatts que a Petrobras se comprometeu a destinar às térmicas no primeiro semestre, segundo Castro, representam 20 milhões de metros cúbicos de gás. “É muito gás, em relação ao consumo nacional. Se essa demanda for solicitada, acho difícil a Petrobras atender”, alega.

No meio do ano, acredita Castro, a oferta de gás natural começará a melhorar porque a estatal importará 6 milhões de metros cúbicos do combustível e outros 14 milhões de metros cúbicos serão destinados à unidade de regaseificação que ficará na Baía de Guanabara (RJ), que converterá o gás natural liqüefeito (GNL), transportado em forma líquida em navios especiais para o estado gasoso.

O professor da UFRJ esclarece que a opção pelo GNL se deve ao fato de que o combustível pode ficar estocado nos navios. “O GNL é mais apropriado para as termelétricas do que o gás que vem da Bolívia e o que é produzido pela Petrobras”, destaca.

Segundo o coordenador do Gesel, o uso das termelétricas pode ser considerado uma postura preventiva, para economizar água dos reservatórios. Ele destaca, porém, que somente no final de abril, quando acaba o período de chuvas, será possível saber se a situação será crítica no próximo ano.

Em relação à proposta do diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, de um programa de conscientização de economia de energia, o especialista avalia que é conveniente seguir com a idéia apenas a partir de abril. “Se o governo iniciar um programa hoje e começar a chover, ele se torna desnecessário”, ressalta.

Segundo Castro, no Sudeste está chovendo 75% abaixo da média histórica. No Nordeste brasileiro, o índice pluviométrico é inferior em 50% à média histórica. Apesar disso, ele ressaltou que não há condições de prever com acerto a quantidade de chuva que cairá no próximo mês, o que pode fazer a situação se normalizar.
Para Castro, a situação atual do país não deve ser comparada ao racionamento de energia ocorrido em 2001. “Hoje, a situação é completamente diferente. Temos outros instrumentos para superar eventuais desequilíbrios entre a oferta e a demanda de energia, como a importação de GNL”, argumenta.
 
(Por Alana Gandra, Agência Brasil, 10/01/2008)