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cargill
2008-01-10
A multinacional Cargill já contratou uma empresa especializada para dar início ao processo de realização dos Estudos de Impactos Ambientais/Relatório de Impactos Ambientais (Eia/Rima) sobre o terminal graneleiro que construiu no porto de Santarém, oeste do Estado. A informação foi confirmada ao site por uma fonte influente junto à empresa, que não quis ser identificada. Segundo a fonte, os estudos devem ser realizados este ano, por força de decisão judicial.

Depois de uma intensa e longa disputa judicial, o Tribunal Regional Federal decidiu que a empresa terá que executar o Eia/Rima para medir os impactos ambientais provocados pelo terminal. Segundo a fonte consultada pela reportagem, a Cargill já se prepara para a realização das audiências públicas que este tipo de estudo exige. Os opositores do projeto, entre eles o Ministério Público Federal e entidades coordenadas pela organização ambientalista Greenpeace, também se articulam para as audiências.

Nas audiências públicas, o Greenpeace deverá mobilizar o maior número de entidades possível para pressionar a Cargill a admitir que é responsável pelo desmatamento ocorrido em toda a região oeste do Pará e em áreas do Amazonas e Mato Grosso. Caso isso aconteça, os recursos necessários à correção dos possíveis impactos podem ser tão altos a ponto de não compensar a manutenção do porto em Santarém. A empresa mantém mais de 300 filiais em todo o mundo.

De acordo com a fonte, haverá uma grande batalha de comunicação em torno dos estudos e, segundo ela, a Cargill já sai perdendo. "A empresa mantém uma política de comunicação em Santarém igual à praticada em outros lugares do mundo e não entendeu que em Santarém, na Amazônia, as coisas são diferentes", disse a influente fonte. Além disso, graças à máquina de propaganda do Greenpeace, o porto é visto como o grande vilão do desmatamento na região.

Os estudos mais recentes divulgados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apontam que apenas 5% da produção de soja na região avançou sobre a floresta. O restante se deu em áreas degradadas. Mas as intensas campanhas realizadas contra a produção de soja na Amazônia apresentaram o terminal graneleiro da Cargill como o responsável por uma grande onde de desmatamento no oeste do Pará.

Estes dados, no entanto, nunca foram usados pela Cargill para se defender. Segundo as informações repassadas ao site, a empresa contratada pela multinacional será responsável pelas questões técnicas envolvendo o Eima/Rima, o que não deverá influenciar em nada a comunicação da Cargill com a sociedade da região. Atualmente, o escritório central da comunicação da empresa está localizado em São Paulo, há mais de três mil quilômetros de Santarém.

Mesmo à distância, a direção da empresa vem monitorando a situação em Santarém. No final do ano passado, toda a cúpula da administração do terminal portuário foi demitida. Não há explicações públicas, mas especula-se que o motivo foi a falta de diálogo da direção do porto com a sociedade local. Além disso, no episódio do fechamento do terminal no ano passado, a mando do MPF, a defesa da multinacional foi considerada tímida.

Polêmica
A construção do terminal de grãos da Cargill em Santarém foi marcada por uma grande polêmica e acompanhada por uma guerra judicial. Logo no início do projeto, organizações ambientalistas de Santarém, articuladas pelo Greenpeace, entraram no Ministério Público Federal pedindo o embargo à obra, sob a alegação de que o Eia/Rima não havia sido realizado. Com base em licenças da Secretaria de Meio Ambiente do Estado, a Cargill prosseguiu as obras.

A Justiça Federal em Santarém suspendeu as obras, dando início a uma seqüência de recursos e liminares que acabaram favorecendo a construção do porto antes da decisão final. Com o porto já em operação, a Justiça decidiu finalmente pela realização dos estudos. Uma das grandes dificuldades do governo estadual, que deve conduzir o processo, será adequar o Eia/Rima, já que ele deve ser elaborado para obras que ainda serão construídas, e não para projetos prontos.

(Por Paulo Leandro Leal, Amazonia.org, 09/01/2008)

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