Porto Alegre (RS) - A multinacional de alimentos Gelita fechou nesta terça-feira (08) sua unidade na cidade de Estância Velha, no Vale do Sinos. A empresa está entre as seis que foram autuadas pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) pela poluição do rio dos Sinos, que resultou na morte de mais de 85 toneladas de peixe em Outubro de 2006.
Todas as seis empresas autuadas pela Fepam recorreram na Justiça, que até o momento não emitiu nenhuma decisão sobre o caso. O coordenador da entidade ambientalista UPAN e integrante do Comitê da Bacia do Rio dos Sinos, Rafael Altenhofen, avalia que a demora do processo decorre da falta de provas apresentadas pela Fepam contra as empresas. De acordo com ele, apenas em relação à Utresa, uma operadora de lixão industrial, é que foram apresentados laudos técnicos que comprovam crimes ambientais, como o despejo de altas quantidades de produtos químicos sem tratamento.
"Empresas que teriam potencial poluidor acabaram sendo acusadas. Algumas com base e outras não. O fato é que hoje apenas da Utresa se tem dados concretos de que a empresa tinha problemas. Mas em relação às outras empresas, pouco se tem", diz.
Rafael também responsabiliza o governo estadual e os municípios da região pelo crime ambiental ocorrido no rio dos Sinos. Para ele, a degradação do manancial é reflexo da falta de fiscalização por parte do Estado e de políticas públicas das prefeituras, que não tratam os esgotos das cidades. Rafael ainda lembra que o Rio Grande do Sul não aplica a Lei das Águas, que gerencia a utilização dos mananciais hídricos.
"O grande problema é que houve uma omissão, por décadas, dos órgãos ambientais em relação à fiscalização. Os municípios não fizeram a parte deles, tanto é que são responsáveis por 85% da carga poluente do rio dos Sinos. A Fepam [Fundação Estadual de Proteção Ambiental], que é responsável pela fiscalização das empresas, está cada vez mais desmontada e não tem capacidade de fazer essa fiscalização mais em cima. Tanto é que a maioria das empresas fazem suas próprias análises e enviam mensalmente para a Fepam", argumenta.
Em Estância Velha, a Gelita empregava cerca de cem funcionários na produção de gelatina. Todos foram demitidos também na terça-feira. A empresa, por meio de sua assessoria de imprensa, não quis se manifestar sobre os motivos do fechamento da unidade no Rio Grande do Sul. Com a extinção da fábrica em Estância Velha, a empresa permanece com três unidades no país, sendo duas em São Paulo e uma no Paraná. Ao todo, a multinacional emprega 400 trabalhadores. Em escala mundial, a Gelita produz cerca de 80 mil toneladas de gelatina, o que representa 30% do mercado mundial.
(Por Raquel Casiraghi,
Agencia Chasque, 09/01/2008)