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seca e estiagem geração de energia termelétricas a óleo
2008-01-10

A escassez de chuva, e por conseqüência a diminuição dos reservatórios das hidrelétricas, começa a gerar preocupação quanto ao fornecimento de energia no Brasil. Como a Região Sul está com condições de geração melhores do que as do Sudeste, está ocorrendo o envio de energia pela primeira para a segunda. O Sudeste, por sua vez, está mandando energia para o Nordeste que se encontra com seus reservatórios no limite, em 27% de sua capacidade.

Conforme dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), desde 2 de janeiro, com exceção do último final de semana, a Região Sul enviou energia para o Sudeste. Na terça-feira foram 867 MW médios e a estimativa é de que ontem chegasse a 1 mil MW médio (o que corresponde ao consumo de cerca de 350 shopping centers de grande porte).

"Isso é um sinal que podemos ter problemas de abastecimento, pois o Sudeste é o principal fornecedor de energia do País", alerta o presidente do comitê Estratégico de Energia da Amcham-Porto Alegre, Luiz Cruz Schneider. Ele salienta que o Rio Grande do Sul é envolvido na situação porque o sistema elétrico nacional é interligado e a energia é repassada para diversas localidades. O presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), Paulo Mayon, concorda com Schneider que o cenário atual antecipa parte das dificuldades que eram esperadas para 2010.

Mayon acredita que um racionamento por falta de chuvas deve impactar os consumidores de gás natural. "O despacho das térmicas a gás aumentará e não será possível atender também a clientes industriais e veículos que usam o insumo como combustível", argumenta o dirigente.

Mayon destaca que o País não tem um "plano B" caso a ausência de chuvas prejudique a geração hidrelétrica. Segundo dados do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), a previsão climática para o primeiro trimestre do ano, no Sudeste, espera chuvas abaixo do normal no norte de Minas Gerais e Espírito Santo e normal nas demais áreas da região. Para o Sul, se prevê chuvas abaixo da normal climatológica em praticamente toda a região.

O presidente do Grupo CEEE, Delson Luiz Martini, afirma que, hoje, o nível dos reservatórios das hidrelétricas na Região Sul encontra-se em um patamar de 74%, considerado muito bom. "Embora esta situação não afaste riscos", salienta Martini. As regiões Sudeste e Centro-Oeste encontram-se com seus reservatórios em um patamar de 44%. O presidente do Grupo CEEE, que também é membro do Conselho de Administração do ONS, diz que, embora a situação não seja de racionamento, é um cenário que inspira muitos cuidados.
Martini ressalta que, em dezembro, iniciou o período tradicionalmente chuvoso nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do País, que se estende até abril, e que 60% da energia de que o Brasil necessita em 2009, depende de como vai se comportar o nível de chuvas neste período. O dirigente acrescenta que, no momento, os índices pluviométricos estão se comportando de acordo com o modelo previsto e que em situação de contingência simples não há risco de racionamento.

Mayon, da Anace, defende o incentivo do uso racional de energia para evitar que as dificuldades energéticas sejam antecipadas. Já Schneider, da Amcham-Porto Alegre, sugere o aceleramento dos processos de licenças ambientais para usinas e a implantação de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).

Termelétricas aumentarão custo da geração
Ao liberar o funcionamento das termelétricas para compensar ameaças de problemas no sistema, o ONS está poupando os níveis das hidrelétricas por uma questão de segurança. No entanto, a diminuição da geração hídrica e o aumento da geração térmica farão com que o preço da energia se eleve.

"O preço de liquidação de curto prazo da energia aumentou 92% apenas nesta semana em relação à semana passada", revela o presidente do Grupo CEEE, Delson Luiz Martini. Ele lembra que a mesma energia, que custava R$ 18,59 o MW, no ano de 2004, estava sendo vendida ontem a R$ 472,00 o MW.

Na terça-feira, a Região Sul chegou a gerar 1.575 MW através de fontes térmicas (cerca de 34% do pico de demanda de energia registrado no Rio Grande do Sul em dezembro). O Rio Grande do Sul foi responsável por 380 MW e não teve uma participação maior, pois, conforme o ONS, houve problemas operacionais na termelétrica Presidente Médici, em Candiota. A termelétrica AES Uruguaiana operou a 274 MW. Uma das três turbinas do complexo encontra-se em período de manutenção programada e deve voltar a funcionar em março.

A termelétrica Sepé Tiaraju, de Canoas, produziu 6 MW em seus testes para adaptação ao uso de óleo diesel. A térmica está sendo convertida a uma usina bicombustível para se precaver quanto a uma eventual falta de gás natural.

(Por Jefferson Klein, JC-RS, 10/01/2008)


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