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crise energética
2008-01-10

Além do nível baixo dos reservatórios devido à falta de chuvas, o País vem enfrentando a falta de disponibilidade total das usinas termelétricas que estão sendo acionadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para preservar os reservatórios. De acordo com o Informativo Preliminar Diário da Operação de ontem, referente ao dia anterior, das 21 térmicas que tiveram despacho programado nos sistemas Sudeste/Centro-Oeste e Nordeste, 13 usinas geraram abaixo do previsto. O boletim informa que as térmicas geraram abaixo do previsto por motivos que vão desde a falta de gás até problemas operacionais.

No sistema Nordeste, aonde a situação dos reservatórios é mais crítica, seis das 11 térmicas despachadas geraram abaixo do previsto. "A geração térmica foi inferior ao valor programado", diz o informe. A TermoPernambuco, por exemplo, gerou uma média de 226 MW (megawatts), diante dos 235 MW previstos. Segundo o boletim, a geração ficou abaixo do programado devido a menor disponibilidade de gás. A usina de Jaguarari tinha previsão de 101 MW de média diária, mas gerou apenas 52 MW. No caso dessa unidade, houve menor disponibilidade de combustível.
No Sudeste, sete das dez usinas programadas a operarem no dia 7 geraram abaixo da programação do ONS. A térmica Norte Fluminense gerou apenas 110 MW, na média diária, diante de 793 MW previstos. Segundo o boletim, houve problemas no sistema de proteção contra incêndio e resfriamento das unidades geradoras. A usina Aureliano Chaves teve geração média de 163 MW, dos 226 MW previstos. A causa, segundo o ONS, foi a falta de gás.

O nível dos reservatórios no Nordeste ficou em 27,04% anteontem. Na Região Sudeste, esse nível chegou a 44,73%. A maior preocupação do governo é em relação ao nível do Sudeste, que já se aproxima da Curva de Aversão ao Risco, que determina o nível mínimo para que o sistema seja abastecido com segurança.

O atual nível da curva do Sudeste é de 40%. No Nordeste, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) já havia determinado, no final de dezembro, o despacho de mais térmicas, para poupar os reservatórios da região.

Hubner nega risco de racionamento e Lula faz reunião sobre o tema

O ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, disse que a afirmação feita na terça-feira pelo diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, de que não é impossível haver racionamento de energia este ano expressa "a posição individual de Kelman e não reflete o pensamento da diretoria da agência". Hubner foi além e assegurou que não há risco de o País viver um novo apagão neste ano ou em 2009. "Está descartado apagão elétrico em 2008 e 2009", afirmou.

O ministro já chamou Kelman para conversar. Ele lembrou que o governo possui "vários espaços para debate", como o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), que inclusive tem reunião marcada para hoje à tarde. Criado após o racionamento de 2001, o CMSE é um órgão que tem como principal função acompanhar periodicamente a situação do abastecimento de energia elétrica.

Apesar das declarações de Hubner, a situação de fornecimento de energia preocupa o governo. Tanto é que no início da noite de ontem, depois da entrevista do ministro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou uma reunião com Hubner, Kelman e o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, para discutir o assunto.

"Ele colocou uma posição individual dele. Eu questionei a diretoria da Aneel se era uma posição dele ou uma posição da agência. Disseram que não, que foi uma expressão individual do diretor e não é uma posição da agência", reforçou o ministro, ao comentar as declarações de Kelmann.
Para Hubner, apesar de os reservatórios das usinas hidrelétricas estarem baixos, não há motivo para alarde com relação à situação do fornecimento de energia elétrica no País. Segundo ele, o quadro atual é diferente do registrado em 2001, quando ocorreu o racionamento de energia. "A população brasileira já ficou traumatizada com o que aconteceu em 2001. A situação atual é bem diferente daquela. Nós criamos mecanismos para evitar que aquilo se repita", afirmou.

O ministro reconheceu que no último trimestre de 2007 o ciclo hidrológico foi desfavorável e houve um retardamento das chuvas. Mas ele lembrou que o País está apenas no 10º dia do período em que normalmente chove com mais intensidade, que vai de janeiro a abril.
Hubner afirmou que as usinas termelétricas foram acionadas para garantir a segurança do sistema elétrico. "A previsão hidrológica é uma ciência incerta. Por isso antecipamos a geração das térmicas", explicou.

Segundo ele, como o período das chuvas ainda está apenas no início, se mais adiante o governo chegar à conclusão que o nível dos reservatórios continua abaixo do ideal, mais usinas termelétricas poderão ser acionadas.

Ele disse que o governo já dispõe de um plano de contingenciamento de gás e que, se houver necessidade, poderá transferir para as térmicas o gás que a Petrobras utiliza para consumo próprio, por exemplo. Qualquer medida, no entanto, levará em conta diversas questões, como evitar uma alta no preço da energia para a população. "Se caminharmos para uma situação de emergência, que não é o caso, todas as medidas seriam tomadas."

De acordo com o ministro, o fornecimento de gás às termelétricas já está excedendo as cotas previstas no termo de compromisso firmado em maio do ano passado, entre a Petrobras e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Hubner ironizou os analistas que criticam a política energética do governo e afirmam que haverá problemas no fornecimento de energia. "Tem analista para tudo. Faz cinco anos que eu estou no governo e todo ano tem gente dizendo que vai faltar energia. E não faltou", disse.

O ministro garantiu que o governo fará um acompanhamento permanente das chuvas ao longo deste mês, mas somente no final de janeiro será possível avaliar com mais precisão qual é a situação de capacidade de geração hidrelétrica do País. Ele acrescentou que a situação de baixa nos níveis de água dos reservatórios não deve ser interpretada como um alerta à população.
Questionado se seria necessário iniciar uma campanha junto à população para incentivar a economia de energia, Hubner disse que, se o governo achasse que o País caminha para essa situação, teria de fazer isso. "Mas não achamos que estamos nesse cenário".

Dilma resiste a político nas Minas e Energia

A indicação de um político para o Ministério de Minas e Energia no momento em que já se admite a possibilidade de um novo apagão elétrico no País preocupa empresários e associação de empresas do setor. Os empresários se tornam aliados da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que resiste ao critério político para a definição do novo ministro e para a troca de comando de postos-chave no setor elétrico, atualmente ocupados por pessoas de sua confiança.

Entre os empresários há os que defendem a efetivação de Nelson Hubner, que assumiu o ministério interinamente em maio do ano passado, quando Silas Rondeau foi afastado por denúncias de envolvimento em escândalo de superfaturamento em obrar públicas comandado pela construtora Gautama, descoberto pela Operação Navalha da Polícia Federal. O momento é bastante delicado para o setor elétrico: baixo índice de chuvas e dificuldades no abastecimento de gás para as termoelétricas.

Por causa do baixo índice de chuvas no mês passado, os reservatórios das principais hidrelétricas estão baixos. A situação obrigou o governo a acionar todas as usinas termelétricas disponíveis. Mas o problema mostrou sua outra face: a capacidade de geração limitada pela escassez de gás natural.

É esse quadro que preocupa o setor privado. Há o temor de que um político - sem experiência e conhecimento técnico no setor - não consiga tomar as medidas preventivas necessárias para evitar um novo apagão no País. O momento, segundo esses empresários, é de decisões que não podem ser postergadas. Ele pondera que uma troca de equipe provocaria uma paralisação nas atividades.

Pinguelli descarta risco de apagão imediato

O Brasil ainda não corre o risco de enfrentar um novo apagão, como o que ocorreu em 2001. A avaliação é do diretor da coordenação de programas de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luiz Pinguelli Rosa, que declarou ainda "não ver essa possibilidade". Para ele, o racionamento só será necessário se o volume de chuvas não se normalizar. Se continuar a situação de pouca chuva por um período de muitos meses, poderá haver apagão, afirmou.

Pinguelli, que é também secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, acredita que a situação deverá acabar encontrando o equilíbrio, de forma razoável. Ele destacou que a ligação das usinas termelétricas, como foi autorizado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico, não se prende apenas a um fator imediato, porque a situação já está ficando desconfortável em razão do baixo nível dos reservatórios. É também para a proteção do período que vai daqui a um ano ou até daqui a dois anos, alertou. Esse é o período mais difícil, avaliou Pinguelli.

Em relatório enviado no final do ano passado ao Ministério de Minas e Energia, à Aneel e ao ONS, a Coppe já demonstrava sua preocupação com o problema, uma vez que havia falta de gás para atender às usinas térmicas. Nesse documento, foi recomendada ao governo a adoção de um plano de racionalização do uso de energia, contendo medidas que levariam ao mesmo resultado com menos energia.

Luiz Pinguelli Rosa observou que esse plano de racionalização difere do "racionamento puro". Ele prevê a adoção de algumas medidas que foram tomadas em 2001, quando ocorreu a crise no abastecimento. Entre elas, destacou a mudança de lâmpadas incandescentes por fluorescentes, que fazem a mesma iluminação e poupam energia; o estímulo aos consumidores para que evitem o desperdício e a mudança de equipamentos pelas indústrias, financiada pelo próprio governo.
Segundo Pinguelli, "a racionalidade evita o desperdício mais adiante". Eu sugeri que (o plano) seja adotado desde já. Eu acho melhor em vez de racionamento fazer essa racionalização. Quer dizer, buscar medidas econômicas e tecnológicas e de controle de desperdício que permitam ter o mesmo resultado, sem prejudicar nem a economia nem o conforto das famílias", concluiu.

(Por Jefferson Klein, JC-RS, 10/01/2008)


 


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