Porto Alegre (RS) - O mercado de matéria-prima para biocombustível no Rio Grande do Sul deve avançar a partir deste ano. Com 20% da produção nacional, o Estado é hoje o maior produtor do país. O fator é fundamental, já que a adição de 2% de biodiesel ao óleo diesel comum já entrou em vigor no Brasil no início de 2008.
O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Rio Grande do Sul (Setcergs), Sérgio Neto, avalia que a iniciativa do governo é válida na medida em que pretende proteger o meio ambiente. No entanto, lembra que o custo da produção do biodiesel é muito maior do que o diesel comum, o que pode encarecer os preços. Apesar de o governo não prever alterações nas tabelas, a expectativa de Neto é de que o aumento seja repassado aos consumidores.
“Se houver de fato algum aumento no diesel, que é um dos maiores insumos do transporte rodoviário de cargas, certamente haverá um reajuste no preço do frete”, diz.
Já o coordenador da Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-Sul) Rui Valença vê benefícios na medida também para os produtores, que podem ter uma fonte de renda com as oleaginosas. Mas antes, ele entende que é preciso rever o atual modelo agrícola do país, em que a maior parte dos lucros fica com as agroindústrias.
“Até agora o modelo de produção agrícola instalado no país, ao menos o sistema de integração, onde o agricultor passa a ser um fornecedor de matéria-prima, não tem desenvolvido suficientemente esse setor, principalmente da economia agrícola, que é a economia familiar”, diz.
Valença também teme que os incentivos para o biodiesel possam estimular as monoculturas, trazendo riscos não só para o meio ambiente, mas para a sociedade. Por isso, ele defende a diversificação dos cultivos, lembrando que a principal função da agricultura ainda é a produção de alimentos. “Nós acreditamos que é possível desenvolver um sistema de produção em que junto se tenha a diversidade, a diversificação de produção para alimentos e produção para energia. Isso é o que a gente imagina como uma situação ideal”, diz.
Cerca de 90% da produção de biodiesel gaúcho vem da soja. Já o restante provêm, principalmente, da canola e do girassol.
(Por Patrícia Benvenuti,
Agencia Chasque, 09/01/2008)