Madri – A produção de energia com recursos renováveis apresenta ótimas possibilidades na Espanha, embora também gere críticas ao negócio derivado da mesma e à falta de controle no cumprimento pelas empresas de seus compromissos com o cuidado ambiental. Várias companhias anunciaram investimentos milionários no campo da energia limpa. Entre elas se destacam Iberdrola, que investirá 8,6 bilhões de euros (US$ 12,240 bilhões) em energia eólica, e Abengoa, com dois bilhões de euros (US$ 2,8 bilhões) em energia solar. Parte desses investimentos será realizada no exterior, mas a maioria na Espanha.
A Iberdrola, segundo seu presidente, Ignácio Sánchez Galán, é líder mundial no setor eólico, já que atualmente tem capacidade de produção de 7.300 megawattas, que chegará a 13.600 em 2010. Também a Endesa, outra multinacional espanhola, vai inaugurar neste primeiro trimestre uma simbólica unidade produtora de energia solar no Ferro, localidade da Galícia, uma das 17 comunidades autônomas que integram este país. O simbolismo está no fato de esta unidade estará localizada junto a uma antiga central térmica de carvão e que produzirá o equivalente ao consumo de 10 familias.
As previsões são animadoras. Fontes governamentais estimam que até 2011 9% da energia elétrica consumida em toda Espanha terão origem eólica, em cujo desenvolvimento terá particular importância a instalação de moinhos no mar. O especialista Emilio Menéndez realizou um informe para a organização Greenpeace onde destaca que o potencial eólico marinho na península ibérica é de aproximadamente 25 mil megawatts e que neste país ainda não está sendo utilizado, ao contrário do que fazem outras nações, como Dinamarca, Suécia e Grã-Bretanha, que já têm instalados moinhos próximos de suas costas.
Fontes do Ministério do Meio Ambiente disseram à IPS que, se como espera sua direção o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) vencer as eleições gerais do dia 9 de março, a instalação de parques eólicos marinhos terá um forte impulso e o financiamento adequado. Nessa linha os ministérios de Meio Ambiente e da Indústria, Turismo e Comercio já iniciaram um estudo para localizar as zonas do espaço marítimo e terrestre que reúnem as condições necessárias para a instalação desses arques, primeiro passo para depois outorgar as correspondentes permissões de instalação, uso e comercialização.
O governo socialista de José Luis Rodrigues Zapatero também teve de intervir para que as empresas cumpram seus compromissos de reduzir a produção de dióxido de carbono (CO²). A empresas obtiveram o direito de emitir, entre 2005 e 2007, até 85,4 milhões de toneladas anuais de CO², com uma compensação econômica do Estado, mas incluíram o custo nas contas dos consumidores finais. Por isso, o governo determinou que as empresas envolvidas devolvam o dinheiro, que representou 1,2 bilhão de euros (US$ 1,680 bilhão) entre 2006 e 2007 e a isso se somarão neste ano mais 1,450 bilhão (US$ 1,830 bilhão).
Diante dos protestos das companhias, o governo espanhol disse que em 2008, depois das eleições, proporá uma lei a respeito que substitua o atual decreto-lei aprovado em 21 de dezembro, o que permitirá que a questão seja discutida a fundo e negociada. A resposta foi rápida: a Associação Espanhola da Indústria Elétrica, que reúne as empresas do setor, disse que não cruzarão os braços se a lei anunciada mantiver a exigência para devolverem o dinheiro recebido pela emissão de CO². Assim, avizinha-se um ano polêmico sobre o assunto.
Se o PSOE vencer as eleições e Zapatero voltar a liderar o governo, este assunto receberá no parlamento apoio suficiente para manter sua posição, já que será aprovado pela coalizão Esquerda Unida, pelos Verdes, pela Esquerda Republicana da Catalunha e pelo Bloco Nacionalista Galego, que já o apoiaram quando foi votado o atual decreto-lei. As organizações não-governamentais apóiam as mudanças, mas também fazem suas críticas. Segundo o Greenpeace, “as companhias elétricas anunciam com grande alarde sua aposta nas energias renováveis, mas continuam mantendo sistemas de geração com carvão ou energia nuclear”.
Dados do Ministério da Industria, Turismo e Comercio na Espanha indicam que há seis centrais nucleares em funcionamento e destas duas contam com dois reatores cada uma, o que dá um total de oito reatores. Também há outra que encerrou sua vida útil e mais uma que está em processo de desmantelamento. Esses oito reatores produzem 19,8% do total do sistema elétrico espanhol, colocando este país na 19ª posição mundial. Além disso, na Espanha existe uma fábrica de combustível nuclear e um centro de armazenamento de lixo radioativo, o que foi alvo de polêmicas e fortes críticas por parte das organizações ecológicas.
(Por Tito Drago,
Envolverde/IPS, 08/01/2008)