O acionamento de usinas termelétricas em pleno período chuvoso para prevenir o risco de racionamento de energia no Nordeste e no Sudeste revela a falta de investimentos em usinas hidrelétricas e agrava a dependência do Brasil em relação ao gás natural. A avaliação é do professor Roberto Schaeffer, do Programa de Planejamento Energético da Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Segundo o especialista, nos últimos anos, o setor elétrico brasileiro não se expandiu na mesma velocidade que o crescimento da demanda, por dificuldades nos projetos e entraves ambientais. Isso, avalia o professor, reflete-se na diminuição do acúmulo de água nas hidrelétricas.
“No passado, a água acumulada pela chuva levava dois anos para sair do reservatório. Atualmente, ela é gasta quase em sua totalidade no mesmo dia”, explicou o professor. “Você não está conseguindo repor essa água porque não há novas usinas entrando.”
Outro problema que o Brasil enfrenta no momento diz respeito ao fornecimento de gás natural, aponta o professor da Coppe. “Se você não pode usar tanto a energia hidrelétrica, tem de usar mais usinas térmicas, que foram pensadas para serem movidas a gás”, destacou.
Para Schaeffer, a não-construção de um segundo gasoduto para trazer mais gás da Bolívia e a oferta limitada também no mercado doméstico exigem que a Petrobras corra contra o tempo. Isso porque as novas reservas de gás natural descobertas na Bacia de Santos e no Espírito Santo vão levar alguns anos para entrarem em operação.
Para evitar a escassez de gás natural, a estatal inaugurará, em maio, uma usina para converter em gás natural o gás liqüefeito (convertido em líquido) comprado de outros países e transportado por navios especiais. “Enquanto tudo isso não entrar em operação, você tem que usar as térmicas disponíveis”, diz Schaeffer.
Na avaliação do professor, existe uma contradição no Brasil. De acordo com ele, até alguns anos atrás, não existia demanda para toda a produção de gás, o que fez alguns estados, como o Rio de Janeiro e da Região Nordeste, estimular o uso do combustível em veículos e por distribuidoras.
“Hoje, esse gás falta para as térmicas, enquanto os veículos têm a opção de usar o álcool, que também é menos poluente”, afirma Schaeffer. “Essa é uma grande contradição na política energética brasileira.”
(Por Alana Gandra,
Agência Brasil, 08/01/2008)