O Exército retomou ontem as obras de transposição das águas do rio São Francisco, suspensas em 14 de dezembro devido a impasses judiciais e ao recesso de fim de ano dos militares que atuam na operação.
Os trabalhos foram reiniciados nos dois pontos de captação de água previstos no projeto, nos municípios pernambucanos de Cabrobó e Floresta.
Protagonista de duas greves de fome contra a obra, o bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, 61, protestou contra a retomada da obra. Em entrevista por telefone, disse que a operação "mostra a total insensibilidade do governo em relação aos movimentos sociais que o elegeram".
Dom Luiz afirmou que sua campanha contra a transposição continuará. "Não podemos parar", disse, referindo-se aos grupos que, como ele, defendem a revitalização do rio, a realização de obras hídricas mais baratas e a convivência com a seca.
O bispo disse que o governo "traiu quem o apoiou" e "alijou a população das tomadas de decisão, tornando-se arbitrário". Para ele, o presidente Lula "se recusa agora a ouvir a sociedade".
Cerca de 380 militares trabalham no projeto desde junho de 2007. Eles retornaram aos canteiros de obra no dia 4 para construir as barragens de Tucutu e Areias e dois canais de aproximação do rio com as estações de bombeamento.
Greve de fome
O religioso ainda não se recuperou dos 23 dias de jejum. Dos nove quilos que perdeu, readquiriu apenas dois. "Ainda estou sob cuidados médicos, com alimentação controlada." Ele disse acreditar que só voltará a se alimentar normalmente no final do mês.
A reportagem não conseguiu localizar ontem representantes do Ministério da Integração Nacional, órgão responsável pelo projeto de transposição, para comentar as críticas de d. Luiz.
(Fábio Guibu, Folha de São Paulo, 08/01/2008)