O brasileiro tem propensão para derrubar árvores. Se julga onipotente e por qualquer motivo pega o machado ou a motosserra e põe abaixo uma majestosa planta que levou décadas para se formar. O resultado desta visão equivocada é a destruição acelerada do meio ambiente. O último ato deste caminho insensato foi protagonizado pela Câmara dos Deputados.
Às vésperas do Natal, a Comissão de Agricultura aprovou o projeto que altera o Código Florestal, desobrigando a recuperação das áreas desmatadas. A proposta, chamada de "floresta zero" pelo Greenpeace, reforça a intenção de se reduzir a reserva legal de mata de 80% para 50% na Amazônia.
O mundo acompanha estupefato a destruição da maior floresta tropical do planeta. A Amazônia Legal ocupa metade do Brasil e tem capacidade para retirar da atmosfera, pela fotossíntese, até 2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono por ano, mais do que todo o país emite, cerca de 1,5 bilhão de toneladas. Na região há um ecossistema variado, com a maior biodiversidade do mundo. Mesmo assim, as motosserras e os incêndios estão destruindo este patrimônio ambiental da humanidade. Já foram desmatados 700 mil quilômetros quadrados, superfície equivalente aos três Estados do Sul e mais o Uruguai.
Tal atitude é de uma estupidez sem tamanho porque a floresta em pé, bem manejada, pode trazer um lucro muito maior do que derrubada. Mas o equívoco não está relacionado apenas com a parte econômica. A Amazônia produz quantidades gigantescas de água e já foi denominada "uma máquina de fazer chuva". Parte desta umidade que se forma na Região Norte é deslocada pelo vento para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul, contribuindo para aumentar o índice pluviométrico. Com a redução da cobertura florestal, futuramente, será afetado o sistema de chuvas na parte mais rica do Brasil.
É urgente repensar a forma de desenvolvimento daquela extensa área do país. Que se explore o potencial da floresta respeitando o meio ambiente.
(Fabio Dalonso,
Diário Catarinense, 07/01/2008)