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2008-01-07
Nairóbi -  Desde sacos até cobertores descartáveis, para o bem ou para o mal, o plástico está praticamente em todos os lugares do mundo, e o Quênia não é exceção.

O que é originalmente útil pode se converter em algo contaminante depois de jogado fora. As autoridades e a população de Nairóbi fazem esforços para aprender a reciclar seu plástico. Segundo a Autoridade Nacional de Manejo Ambiental, o plástico constitui 225 toneladas das 1.500 (ou 15%) dos resíduos sólidos coletados diariamente na capital do Quênia.

Porém, este organismo calculou que menos de 1% do lixo plástico do país é reciclado. O Quênia, por exemplo, tem apenas quatro empresas dedicadas a essa tarefa em grande escala, mediante a fabricação de sacos plásticos finos conhecidos no lugar como “flimsies”. Em meados de 2007, o governo taxou os sacos plásticos com um imposto extra. Também proibiu os com menos de 30 milésimos de milímetro de espessura, para incentivar a manufatura e o uso de sacos mais grossos, por considerar que têm mais probabilidades de serem reciclados e reutilizados.

Mas, temores de que a proibição causasse uma grande perda de empregos na indústria do plástico levaram ao adiamento da implementação da medida para o início deste ano. Por outro lado, a não-governamental Associação Kayole de Manejo Ambiental (Kema) demonstra que há outras maneiras de vencer a ameaça do plástico e ao mesmo tempo fazer dinheiro.

“Criamos esta organização em 1999 para apoiar o manejo dos resíduos sólidos pela municipalidade de Nairóbi e para dar aos nossos jovens o poder de transformar lixo em riqueza, mediante a elaboração de produtos que podem ser comercializados e de alta qualidade”, disse Simon Munywe, diretor do Kema. Munywe disse que, como as autoridades não recolhiam o lixo, os moradores o largavam na rua. Isso aumentou as doenças originadas na água, entre outros riscos sanitários.

Segundo o site da Kema, 4.500 residências integram a associação, que emprega cerca de 400 pessoas para coletar e reciclar lixo dos subúrbios e favelas de Nairóbi oriental. Entre elas há homens jovens que abandonaram seus lares para ganhar a vida nas ruas. “Acordamos muito cedo todos os dias e nos dividimos em grupos para recolher o lixo das casas e lixões vizinhos. Depois, levamos tudo para um centro de coleta do Kema, onde o lixo é classificado para a reciclagem”, contou Michael Njoroge, de 19 anos, que sai às ruas com um carrinho de mão logo que o sol nasce.

Segundo Munywe, o plástico é reutilizado para criar vários produtos, entre eles colchões, almofadas, cúpula de abajur, chapéus, bolsas, postes à prova de cupins e telhas. Para fabricar os postes e as telhas, deve-se esquentar o plástico de qualquer variedade a 120 graus, para que derreta. O plástico liquido é derramado em moldes de postes e telhas. Um único poste requer 15 quilos de resíduo plástico, disse Munywe, e uma telha utiliza cinco quilos.

As telhas, acrescentou, não são quebradiças, como as de barro, e a água da chuva recolhida nos telhados feitos com elas pode ser bebida. Por sua vez, os postes são uma alternativa útil aos de madeira, em um país que combate o desmatamento.

Munywe disse que os produtos reciclados têm um preço razoável, ao alcance de pessoas com dificuldades para chegar ao fim do mês. Segundo o ultimo Informe de Desenvolvimento Humano da Organização das Nações Unidas, 22,8% dos quenianos vivem com menos de um dólar por dia, e 58,3% com menos de dois dólares diários. Os resíduos biodegradáveis são reciclados (para fazer adubo que é vendido aos agricultores) enquanto os metais são vendidos a vendedores de ferro-velho.

A Kema também oferece cursos curtos de manejo de lixo sólido e elaboração de carvão vegetal a partir de materiais como serragem, entre outros. Alem dos quenianos, também recebem esses cursos membros de associações de moradores, de jovens e de mulheres da Tanzânia e de Uganda. “Temos a intenção de criar empregos para três mil pessoas no Quênia, com a produção de sacos para o mercado nacional e internacional”, disse Munywe. Porém, a associação enfrenta vários desafios. Às vezes, seus membros não conseguem pagar a autorização para coleta de lixo, que é de US$ 0,50 por mês para cada residência.

Munywe afirmou que receio dos consumidores em relação aos produtos reciclados também afeta as vendas. Alem disso, a Kema deve fabricar artigos resistentes ao fogo e, ao mesmo tempo, minimizar as emissões tóxicas que se desprendem quando o plástico é aquecido. O diretor da associação disse que a entidade está colaborando com agências governamentais, universidades, instituições de pesquisa e doadores para explorar tecnologias que permitam a reciclagem de lixo sólido, particularmente plástico. Entretanto, existe uma acentuada melhora na limpeza das áreas onde a Kema está ativa, acrescentou.

Outras organizações realizam atividades similares. Na enorme favela de Kibera, considerado o maior assentamento informa da África, e talvez do mundo, várias organizações de jovens recolhem lixo plástico que usam para fabricar sacos, toalha de mesa e cortinas para box de banheiro. Entre essas entidades figura a PAT Zero Waste, que conta com cerca de 40 membros e exporta seus produtos para Canadá e Estados Unidos, demonstrando novamente que o lixo pode ser transformado em dinheiro.

(Por Justus Bahati Wanzala, IPS, 03/01/2008)
*Este artigo é parte de uma serie sobre desenvolvimento sustentável
produzida em conjunto pela IPS (Inter Press Service) e IFEJ (sigla em inglês
da Federação Internacional de Jornalistas Ambientais).


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