Os arrozeiros gaúchos entram 2008 em busca de tecnologias mais limpas. O objetivo é tornar a produção ecologicamente correta, diminuir o volume de resíduos na água e no grão e, consequëntemente, reduzir custos. O trabalho está sendo desenvolvido pelo Instituto Riograndense do Arroz (Irga) por meio do programa Arroz RS e baseia-se na reeducação do orizicultor para atingir os resultados desejados.
Um dos braços do projeto é a educação sobre a utilização do sistema de cultivo pré-germinado, que preconiza o preparo do solo dentro da água. 'Esse processo leva barro e nutrientes para os mananciais, contaminando o meio ambiente', explica o presidente do Irga, Maurício Fischer. O método, empregado em praticamente 100% das plantações de arroz em Santa Catarina, corresponde a quase 11% da área plantada com o grão no Rio Grande do Sul (100 mil ha). O problema é que, após o plantio, o produtor retira a lâmina de água, drenando-a para os reservatórios ou rios.
Para provar que a manutenção da lâmina de 5 cm a 10 cm sobre a lavoura reduz custos e ajuda o meio ambiente, o Irga está usando espaços de demonstrações para levar a técnica aos produtores. O sistema é utilizado em áreas em São Lourenço, Camaquã, Tapes, Barra do Ribeiro, Guaíba, Eldorado do Sul, Viamão, Torres, Capivari, Gravataí e em alguns municípios da Depressão Central. 'Ao adotá-lo, o orizicultor não dependerá mais do tempo seco para plantar e terá maior controle sobre os pássaros que comem a produção', argumenta Fischer. Ele ainda salienta que o sistema permite que o agricultor não perca tempo nem dinheiro para drenar as poças de água que ficam no terreno irregular após retirada da lâmina. 'O calor faz com que essa água cozinhe a semente que está no solo', esclarece.
Dentro do projeto do Irga de tornar a lavoura de arroz mais sustentável, há intenção de reduzir drasticamente o volume de água para cultivar o cereal. Conforme Fischer, a meta é aumentar a eficiência no uso do recurso em até dez anos. 'Queremos chegar a usar 8 mil metros cúbicos de água para a produção de 8 mil quilos por ha', aponta. A proporção, hoje, é de 12 mil m³ de água para um rendimento de 6,7 mil kg/ha. Na década de 80, era de 17 mil m³ para 4 mil kg/ha.
Além da manutenção da lâmina de água na plantação, outra recomendação do instituto é a irrigação precoce para sementes de ciclo médio. 'Se irrigar a planta com quatro ou cinco folhas, diminui-se o tempo de uso da irrigação', diz Fischer. Para aproximar esta realidade do campo, o Irga está debruçado em estudos que possam conferir a essas cultivares o mesmo rendimento das de ciclo longo, que têm potencial de produtividade de 10% a 15% maior. 'A Irga 424 já traz essa possibilidade', lembra o presidente do instituto.
Fazer com que o orizicultor antecipe a semeadura é outro desafio. De acordo com o dirigente, a mudança faria com que a água das chuvas seja aproveitada para irrigação e com que a planta florescesse na época de maior energia solar.
(Por Thaíse Teixeira,
Correio do Povo, 06/01/2008)