Os armadores estão preocupados com as condições inseguras de navegação no trecho do rio Gravataí, de cerca de dois quilômetros, onde se localizam vários terminais que respondem, em média, pela movimentação de dois milhões de toneladas de cargas ao ano, o que equivale a três vezes mais que o porto de Porto Alegre. O presidente da Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP-Sul), Wilen Manteli, defende que é preciso realizar a dragagem do rio e acrescenta que incidentes ocorridos nesta semana demonstram esta necessidade.
Manteli relata que na quarta-feira o barco Rio Grande do Sul, da Petrosul, ao descarregar no terminal da Bunge "sentou no chão", no leito do rio Gravataí. Foi graças ao descarregamento imediato do barco que ele não ficou encalhado. Ontem (03), no terminal da Yara (ex-Adubos Trevo), também no rio Gravataí, a chata Trevo Nordeste, da Navegação Aliança, teve problemas ao descarregar fertilizantes. Devido ao fato de que o rio está baixo, em função da falta de dragagem, a chata acabou ficando presa na lateral do píer da Yara.
"Desde 1998 não se faz uma dragagem decente no rio Gravataí", acusa Manteli. O dirigente afirma que o ideal seria que o calado do rio fosse de 5 metros e a profundidade atual é de 3,5 metros a 3,8 metros. Com um calado de 5 metros é possível que embarcações carregando 5 mil a 5,4 mil toneladas naveguem pelo rio. Com a profundidade atual, Manteli estima em 3,5 mil toneladas a capacidade máxima de transporte no local.
Um temor do dirigente é de que as empresas localizadas às margens do rio Gravataí optem por sair do Estado caso a situação da dragagem não seja solucionada. Estão instalados no local terminais próprios da Transpetro, Yara, Bunge Fertilizantes, Merlin e Oleoplan. O presidente da ABTP-Sul argumenta que o fato de os navios não poderem operar com uma maior capacidade de transporte pode fazer com que algumas cargas sejam deslocadas por caminhões e não pela hidrovia.
De acordo com a ABTP-Sul, para a dragagem, é necessário retirar em torno de 200 mil metros cúbicos de sedimentos, a um custo aproximado de R$ 1,6 milhão. Só as empresas localizadas naquele trecho do rio Gravataí recolheram, como contribuição voluntária, R$ 3,8 milhões entre 1998 e 2006 para a dragagem. Os recursos foram repassados à Superintendência de Portos e Hidrovias (SPH), autarquia ligada ao governo estadual responsável pela ação. Procurados pela reportagem do Jornal do Comércio, representantes da SPH não quiseram comentar o assunto.
Uma iniciativa já proposta pela ABTP é que seja adotado na hidrovia gaúcha um modelo já implementado nas rodovias. A idéia é licitar trechos do rio para que empresas privadas façam a dragagem e passem a cobrar pedágios das embarcações.
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JC-RS, 04/01/2008)