Washington (EFE) - O aumento das temperaturas no Ártico foi, nas
últimas décadas, quase duas vezes mais rápido que no resto do planeta,
mas os cientistas ainda não sabem o quanto a atividade humana e os
ciclos naturais incidem neste processo, segundo artigos publicados hoje
pela revista "Nature".
"O
aquecimento perto da superfície no Ártico foi quase duas vezes maior
que a média global nas últimas décadas", afirma um artigo de Rune
Graversen e outros pesquisadores da Universidade de Estocolmo.
"As
causas subjacentes deste aumento da temperatura continuam sendo
incertas", acrescenta o artigo. "A redução da cobertura de neve e de
gelo que ocorreu em décadas recentes pode ter desempenhado um papel".
Outro
artigo na mesma revista, de autoria de Shilong Piao, do Laboratório de
Ciências do Clima e do Ambiente, na França, explica que "o balanço de
carbono dos ecossistemas terrestres é particularmente sensível às
mudanças climáticas no outono e na primavera".
"As temperaturas
de primavera e outono nas latitudes nórdicas subiram entre 1,1 e 0,8
grau Celsius nas últimas duas décadas", acrescenta o texto.
"Observou-se
uma tendência ao 'verdecimento', caracterizada por uma estação de
crescimento mais prolongada e maior atividade fotossintética".
Quando
a temperatura global aumenta, reduz a cobertura de neve e de gelo do
Ártico, o que causa um excessivo aquecimento polar, explicam os
cientistas.
Isto altera o albedo - razão entre a quantidade de
luz difundida e refletida por uma superfície e a quantidade de luz
incidente -, e "o aumento do recongelamento do mar durante a temporada
fria e as reduções na espessura do gelo no mar aumentam o fluxo de
calor do oceano para a atmosfera".
Alguns cientistas sustentam
que o aquecimento global e o aumento da temperatura no Ártico se
aceleram devido às atividades humanas - desde o desmatamento às
indústrias e emissões de automóveis - que causam um efeito estufa na
atmosfera.
O estudo dirigido por Graversen observa, no entanto,
que esses modelos de mudança climática não explicam o aquecimento
rápido do ar a mais de 3 mil metros de altura.
Graversen e seus
colegas acham que a explicação está nas mudanças nas transferências
verticais de energia especialmente na metade mais quente do ano.
"Nós
concluímos que as mudanças na transferência do calor na atmosfera podem
ser uma causa importante da recente alta de temperatura no Ártico",
afirma o grupo de Graversen.
Mas, para Shilong, "esta tendência não pode ser explicada somente pelas mudanças no transporte atmosférico".
Este
estudo encontrou "uma tendência rumo a um aumento de dióxido de carbono
(na atmosfera ártica) desde o começo do outono até o inverno, o que
sugere um período mais curto de reabsorção líquida do carbono".
Os dados de fluxo do ecossistema "sugerem um aumento das perdas de carbono no
outono", afirma Shilong.
"Tanto
a fotossíntese como a respiração aumentam durante o aquecimento
outonal, mas o aumento na respiração é maior", acrescentou. "Por
contraste, o aquecimento aumenta a fotossíntese mais que a respiração
na primavera".
(
UOL, 03/01/2008)